O Governador é mais importante, mas...
Dia de pagamento de funcionários públicos estaduais. Agência do BB lotada. Um caixa em licença-saúde e um gerente fazendo curso em Campo Grande. Central de ar-condicionado pifada, on-line intermitente. Malote atrasado e a fechadura do cofre emperrada. Era um típico dia que nada mais podia dar errado, já que tudo que podia acontecer de ruim já acontecera. Até o "veinho da confusão" já tinha vindo reclamar "direto ao gerente", como fazia questão de dizer. (Ninguém lhe tinha dado atenção, "...logo eu que tenho conta nesse banco desde 1961"). A agência com menos de um ano de existência reunia o maior numero de clientes "públicos estaduais". À sua frente meu amigo Marini com a maestria peculiar para tratar de assuntos "bancários" transformava todos as dificuldades, por mais grandiosas que fossem, em apenas desafios, não mais que isso. E nos motivava a superá-las, a todas.
Mas nesse dia a coisa "tava pegando". Meu marmitex já congelado parecia estar sendo carregado por algumas centenas de formigas. Diante de mim uma dezena de servidores não menos famintos e muito mais insatisfeitos que eu, por não terem sequer recebido o dinheirinho para seus almoços.
Em dado momento, no ápice da turbulência eis que toca o mais irritante dos sons no maior dos volumes do meu velho e primeiro Nokia. Todos emudecem em sinal de respeito a minha individualidade (se é que eu tinha direito à alguma). Suspirei aliviado. Mas como nada vem de graça... quando olho o visor e identifico o meu interlocutor, pondero sobre o que seria melhor; continuar na discussão ou atender ao telefone: Era o Zé... Tudo que eu não precisava naquele dia... Mas não tinha como fugir... Além do mais todos os olhos e ouvidos estavam concentrados naquilo...
- Alô Zé...Diga lá meu amigo... Tudo Bem?
- Tudo bem p. nenhuma. Cadê o f.d.p. do Marini? O que que esse v. pensa que é. Eu falo com o governador a hora que bem entendo agora com ele vou ter "marcar audiência?"...
- Zé! Aqui o negócio tá feio... Mas vou levar o telefone lá na sala dele... Peraí!
Ufa, que alívio, além de silenciar todo mundo ainda ia poder sair da sala...
Na sala do homem passo o telefone p´rá ele, informando do que se tratava, do estado nervoso do Zé e, inclusive, sobre os adjetivos já utilizados, mas ainda não descartados por ele, bem como da possibilidade da ampliação de tão expressivo vocabulário...
- Diga Zé. Que você manda.
- Manda é um cacete. Se mandasse num passava o dia todo sem poder fala com você... O governador que é o governador, eu falo com ele a qualquer instante... é só querer... Me diz uma coisa:Você se acha mais importante que ele...?
- Olha zé, pra ser franco eu te digo que mais importante que o governador eu não sou, não. E talvez até nunca venha a ser. Agora que eu sou muito mais ocupado que ele... ah lá isso eu sou...
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