Encapsulado

O Japão é conhecido por seu avançado desenvolvimento econômico e social. É considerado a terceira economia do planeta, só atrás dos Estados Unidos da América e, mais recentemente, da China, aquela potência que se desperta e que alucina. E não é pra menos, tudo no Japão parece funcionar bem, a educação, a produção, a saúde.

Mas o país vive dias de incerteza. E não é de hoje. Com recursos naturais limitados, a superação é a palavra de ordem, em tudo o que se faz no país. E o povo responde bem, é ordeiro, disciplinado e trabalhador.

Superpopuloso, super urbanizado, o Japão padece um bocado da falta de espaço. Daí, tudo lá é caro. E quem vive da idéia de um quintal, babau. Lá não é o lugar ideal. A não ser o Imperador que tem vastos jardins à sua volta, mas como anda às voltas com um câncer de próstata, nem o prazer de mijar no mato ele pode gozar de fato.

E do constrangimento de espaços, surgem as casas piquitinhas, apartamentos ovulares e mais recentemente, surgiram as acomodações capsulares. A idéia era de alojar principalmente homens de negócios que perdidos o metro e o rumo do subúrbio, podiam se acomodar, a noite passar, a preços razoáveis. As tais cápsulas tem o formato parecido e o tamanho um pouco maior do que um ataúde. Com o conforto adicional de um televisor. E proliferaram rapidamente. Só que ao invés dos homens de negócios perdidos na noite, passaram a ser ocupadas por recém-desempregados, pela recessão desalojados. Alguns nem têm vontade de acordar daquele sono. Sem erro, enterro ou quimono, ao abandono, já se sentem nas mãos do dono.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 23/06/2015
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