Nada no basquete é trivial

Descobri recentemente um curioso esporte que, segundo dizem, já é praticado há algum tempo pelos negros norte-americanos. Consiste, basicamente, em arremessar uma bola dentro de um cesto – com as mãos, que fique bem claro. Isso significa que não existe gol, o que causa certo estranhamento de início. São também apenas cinco jogadores em cada time e as partidas são divididas em quatro períodos, com interrupção do cronômetro sempre que a bola para. E, não obstante essas premissas tão inusitadas, pareceu-me que, pelo menos atualmente, este é um esporte muito mais emocionante que o futebol.

Bolas, vocês já devem ter percebido: ultimamente, é muito mais divertido discutir sobre futebol do que assistir as partidas. Principalmente essas do Campeonato Brasileiro, um verdadeiro teste para a nossa paixão nacional. Comecei então a assistir a algumas partidas de basquete e descobri o seguinte: nada do que acontece em uma partida de basquete é trivial. O torcedor mal pode tirar o olho da quadra. O jogador não tem tempo de coçar a cabeça, de voltar devagarzinho para o campo de defesa. Pode ter feito a enterrada mais fantástica que, ainda assim, terá que voltar correndo desesperadamente para impedir um contra-ataque. A menos que uma das equipes seja muito superior, a partida só vai ser decidida nos dois minutos finais – há sempre a esperança de algumas redentoras bolas de três.

Não há gol, é verdade, e, no entanto, estou certo de que o torcedor de basquete comemora muito mais durante uma partida do que o de futebol – eu, pelo menos, me levanto e grito a cada contra-ataque fulminante, a cada bola de três que cai, a cada toco na defesa. Se a partida está equilibrada, há ainda o nervosíssimo minuto final, que pode durar até mais de 10. E a torcida, é claro, canta, grita e xinga o juiz, como toda torcida que se preze. Uma partida de basquete é uma página de literatura russa. E, ao contrário do futebol, eu não tenho a impressão de que faria melhor que os jogadores.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 22/06/2015
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