Dúvidas sobre
                         a morte de São João

          1. Acreditando-se no que a lenda e os livros sagrados contam a seu respeito, São João Batista é um santo sui-generis. Senão, vejamos.
          2. Segundo essas fontes, ele era "um homem selvagem vestido com peles de camelo, um cinto de coro amarrado na cintura, alimentando-se de gafanhotos e mel silvestre." E morava no deserto.
          3. Há indícios de ter sido um cidadão reservado; ou como diz o povão, "um cara fechado". Por isso, eu nunca consegui entender por que tanto foguetório na noite do dia do seu nascimento, a noite de São João.
          4. Vez em quando, ele aparecia nas margens do Rio Jordão batizando os judeus. E, aos brados, anunciando que o Reino de Deus estava próximo, bem como o fim do mundo.
Com sua pregação severa, ele ganhava fama, respeito e a adesão dos que acreditavam na sua mensagem recebida como profética.

          5. Garante a história santa, que Jesus de Nazaré (ou de Belém), seu primo, filho de Maria, prima de Isabel, sua mãe, foi um dos judeus que ele batizou. João Batista, filho do sacerdote Zacarias e Isabel, nasceu na aldeia chamada Aim Karim, perto de Jerusalém. 
          6. Singularidade: o Batista é o único santo, cujo nascimento e martírio, em 24 de junho, e em 9 de agosto, respectivamente, são celebrados em duas solenidades.
          7. Sobre o seu martírio, que resultou na sua morte, conheço duas versões. A primeira é aquela que envolve o tetrarca Herodes Antipas, sua amante Herodíades, e a bela dançarina Salomé, filha de Herodíades.
          8. Salomé, aconselhada pela mãe, teria pedido a Herodes a cabeça de João. Herodíades  não perdoara João que censurara publicamente  seu  "casamento" com o tetrarca:  "Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão." (Mt 14.3-4; Mc 6.18).
          9. Mas no livro Zelota, "uma biografia fascinante e provocadora que desafia nossa compreensão do homem Jesus de Nazaré e de sua época", o escritor Reza Aslan afirma que essa versão é mentirosa porque "repleta de erros e imprecisões históricas."
          10. Na defesa de sua tese, ele mostra, em longo e minucioso capítulo sobre o Precursor, os equívocos cometidos pelos evangelistas que aceitaram essa versão.
          11. Para Reza Aslan - especialista em temas religiosos, formado em Harvard e na Universidade da Califórnia - a história é outra.           Segundo ele, a explicação mais confiável de morte de São João Batista pode ser encontrada na obra Antiguidades, de Flávio Josefo, historiador do primeiro século.
          12. Josefo deixa claro, frisa Aslan, que as pessoas, ouvindo João, "pareciam dispostas a fazer qualquer coisa que ele aconselhasse."
          E que, diante do visível crescimento da popularidade de Batista, Herodes Antipas, apavorado, determinara sua imediata captura.
          Acusado de sedição, João fora enviado para a fortaleza de Maqueronte onde "foi morto sem alarde em algum momento entre 28 e 30 d.C."
          13. Dando vez à minha imaginação romântica, opto por acreditar na primeira versão, ou seja, na que contou com a participação da encantadora dançarina Salomé, que deixou Antipas de queixo caído, depois de vê-la dançar nos salões do seu palácio.
          14. Por último, vale lembrar que a segunda versão, adotada pelo escritor Reza Aslan, in Zelote, não provoca estranheza e muito menos pode ser considerada uma grande novidade. Essa de mandar matar opositores que crescem em popularidade também acontece nos dias que correm.   

 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 21/06/2015
Reeditado em 21/06/2015
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