Desapego, pero no mucho
Não eram poucos, fiz duas montanhas de mais ou menos 60 centímetros, meu coração batia forte, talvez por egoísmo, me enchi de coragem e fiz.
Era uma verdadeira sessão de desapego, duro exercício para uma capricorniana um tanto conservadora. Não garimpei muito, abri o armário separei só os muito significativos com dedicatórias e autógrafos, os Neruda, Lia Luft, Josué, Cecília, Drummond, Scliar, Jorge Amado, Quintaninha, delícia foi ler o Centauro no Jardim, Os deuses de Raquel, tenho muitas pérolas ainda, nem vou sofrer. Dia azul e frio, como são bonitos os invernos daqui, improvisei uma cadeira e uma prancha de madeira, armei minha feira do livro ao lado do portão da garagem. A buganvilia ainda está bem florida, tons de lilás, de maravilha, partes do muro estão cobertas por heras; a natureza entrou com o cenário. Empilhei os livros com as lombadas para cima, para facilitar a coleta, a estante tinha dois andares e mais de um metro de comprimento, embaixo, era bem mais estreita. Perfeito, mas por alguns minutos pensei se ia me arrepender do “descarrego”, já fui mais desprendida, eu gostava de “esquecer” livros nos bancos da lotação, em algum lugar público, deixava sem vacilar, queria dividir as coisas legais que eu lia. Fechei o portão e pensei num cafezinho para aquecer a alma, antes de entrar, olhei para trás e vi que uma senhora com duas crianças já participavam da minha feira. Fechei a porta e, como de costume, senti que o dia se iluminou.
Beijo a todos!