CRÔNICA PARA UM DIA DE INVERNO
No inverno de alguns anos passados, quando eu era criança, nossa maior preocupação (minha e d'outros, feito eu; criança de tudo!) Era arrumar madeira para a fogueira do final do dia.
E sendo nós crianças, para tudo dávamos jeito.
Itapema, nome dado pelos bugres era nosso lugar; depois, virou nome de poeta.
E que lugar lindo de se morar, tínhamos tudo que nossa pobreza podia dar. Pés descalços, poeira no cabelo, roupa rota, e sorriso falho, podíamos até ter dente de menos, mas tínhamos o sorriso mais belo do lugar.
Tínhamos caminhõezinhos feitos em casa com tocos de madeiras e latas de carne ou sardinha, se fosse de sardinha, era um mimo ganho com sorte e dedicação, um achado a ser preservado até que a ferrugem desse.
Nós eramos felizes de regalar olhos. E infelicidade, somente quando chegava a época das vacinas obrigatórias da Sucen, tínhamos horror a aqueles homens vestidos de marrom que portavam caixinhas metálicas cheias de agulhas do tamanho de uma dor de dente.
No inverno de minha infância; para a roupa dada, não se olhava falta de botão. Vestíamos logo, antes que a teia das aranhas nascessem brancas como o dia tecido pelo sol e pela neblina da solidão.
Neblina, dava medo, por que quando longe não víamos nosso irmão e que solidão dava, que medo das distancias, que medo de perder o aconchego dos gritos, sorrisos e murmúrios dos nossos iguais, que procuravam entre cercas o calor da conversa de quem fazia planos para o futuro.
E assim neste mote, o dia percorria seu destino e morria cedo, pois, era dia de inverno e nós eramos meninos com pressa de viver um próximo verão.
Olimpio de Roseh