JÁ ME SENTI PARTE DA DENSA MATA
JÁ ME SENTI PARTE DA DENSA MATA
Foi uma experiência única!
Certo dia, quando de um passeio a uma cidadezinha no interior de Minas Gerais, sem qualquer compromisso com o relógio, ou com quem quer que seja, resolvi adentrar a mata.
No momento de transição entre a estreita e esburacada estrada de terra batida e a densa vegetação, o meu coração disparou. Afinal, nunca havia me imiscuído em ambiente para mim tão desconhecido.
À medida que avançava apreensivo pelo interior daquele ecossistema, mais o meu coração palpitava.
Em dado momento deparei-me com uma bica d’água, sobre a qual havia uma enorme pedra abrigada por uma generosa sombra de frondosas árvores.
Naquele momento, talvez por já estar a algum tempo naquele ambiente, meu coração já não pulsava tanto, no entanto, era notório o seu descompasso. Maravilhado, resolvi fazer daquele privilegiado patamar quase invisível na imensidão do grandioso contexto, rodeado de árvores e arbustos, o meu posto de observação, repouso e reflexão.
Passaram-se uns quinze minutos e, após ter contemplado tudo à minha volta e me assegurado de que não havia, nas proximidades, nenhum animal peçonhento ou ameaçador à minha integridade física, fui-me acomodando e me harmonizando com o ambiente.
Talvez uma hora tenha se passado e eu já não era mais o mesmo de quando da minha chegada.
Meu coração assossegara, quase não pulsava, porquanto eu praticamente não gastava energia. Encontrava-me completamente inserido àquele ambiente, pois já o integrava. A ponto de, caso alguém por ali passasse, nem percebesse a minha presença.
Meus movimentos eram poucos, lentos e sóbrios. Meus olhos contemplavam a tudo, sem nem mesmo se moverem e a minha respiração era imperceptível. Insensível até mesmo aos mosquitos que, talvez sem que tenham percebido a minha presença ali inserta, contornavam-me com seus voos incertos.
Assim, em minha presunçosa percepção, tomado por um vislumbre incomum, senti-me parte daquela densa mata.
Rafael Arcângelo Machado – junho de 2015.