Quem lê tanta notícia?
Corriam ainda os anos 60 quando Caetano Veloso fez a provocação, que hoje parece piada:
– Quem lê tanta notícia?
Não há parâmetro de comparação entre o volume de informação produzido naqueles tempos e agora. Vivemos atolados numa montanha de notícias, fotos, fatos, boatos e números.
Quem lê tanta notícia, hoje em dia?
Aliás, chegamos a um ponto de saturação tão grande que muitas pessoas estão se abstraindo de qualquer densidade em nome da sanidade mental. Os especialistas em conteúdo digital andam dizendo que o segredo é fazer um conteúdo que possa ser visto sem ser lido.
Ual: ser visto sem ser lido!
Entendeu ou preciso desenhar? O ponto é exatamente esse.
Fiquei surpreso com a proliferação de livros com títulos com um quê de oníricos nas listas dos mais vendidos recentemente: Jardim Secreto, Bosque Encantado, Floresta Mágica…
Só quando entrei numa livraria de verdade descobri o segredo mágico desses best-sellers encantados: eram livros para colorir! E para adultos! Para adultos estressados, como alguns subtítulos deixavam entrever.
Ou seja, a moda agora são livros sem texto. Livros que não são livros. Livros que não precisam ser lidos.
Claro, quem já não lê nem notícia não tem tempo para ler livro. Melhor colorir.
Minha surpresa aumentou quando vi em destaque um livro chamado “Isto não é um livro”, cujo conteúdo aliás é bastante honesto com o título. No interior, uma série de charadas, brincadeiras, tarefas para o usuário, filosofia barata e convites à interação (como colar coisas nas páginas ou realizar alguma atividade pueril).
Ou seja, depois dos livros em que o leitor não lê, nada mais natural do que livros em que o escritor não escreve.
Espero que você tenha tido paciência de ler meu texto até aqui. Prometo que numa próxima crônica tentarei rechear este espaço com mandalas psicodélicas fantásticas para que você possa colorir. Certamente farão bem maior do que estas tortas linhas que ora encerro.
Caetano era mesmo um visionário:
Quem lê tanta notícia?