Os Cercados Interiores
A vida não dá segurança a ninguém. Porque viver é ser invadido a todo instante por surpresas que, por assim serem não são por nós previsíveis. Viver dá trabalho de mais ou de menos, dependendo de quem nos cerca. E de quem também não nos cerca, porque o ser humano tem se refeito pela violência, muito mais do que pela tolerância.
Os nossos "cercados" interiores são invadidos se a gente não estiver vigilante. Lá fora a intolerância; lá dentro os conflitos entre o que ontem era certo e hoje está errado. O que ontem era saudável e hoje memorando. Entre o que ontem era moda e hoje démodé. Entre o que ontem era amor é o que hoje é "ficagem". Entre o que ontem era padrão duro de limite a filhos e hoje é psicologismo e pedagogia moderna da frouxidão. Entre o que ontem era amizade sincera e hoje meros amigos interessados no que temos ou na comodidade que lhe podemos proporcionar. Entre o que ontem era a fé e o que hoje se mistura pelo fanatismo de igrejas que estimulam o preconceito em nome de suas supostas crenças.
Viver tem sido, pois, assim: meio assado em nossos cercados interiores e exteriores. E o que nos resta? Talvez a certeza de que é preciso, como na canção do Roberto, "saber viver"... Compreender os vários "cercados" em nossa volta e saber onde eles nos poderão fazer bem ou mal. O difícil disso é que para se chegar nisso temos que interagir e isso não é garantia de muita coisa. Algo como "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come". Correr da vida? Jamais. Ser comido por ela? Nunca. Como vês, viver é difícil por demais.