Ser Humano

Desde pequenos somos constantemente reprimidos e aprendemos a guardar nossas emoções como se fossem algo ruim. Sentir raiva é mal-criação. Chorar é feio. Gritar é descontrole. Tristeza é falta do que fazer. Sorrir demais é falsidade. Sinceridade é grosseria. Carinho é carência. E assim somos criados, como “robozinhos” controlados, nos fechando para o mundo dos sentimentos, sem permitir que eles nos toquem profundamente; não entendendo a magia das relações, a intensidade da vida.

Pensando bem, todos são assim, de uma forma ou de outra. Você não tem vergonha de chorar? Diz “eu te amo”? Permite-se amar? Compreende-se? Se você faz tudo isso, parabéns, pois eu sou um ser absurdamente reprimido e creio que a maioria da humanidade também. E isso tudo é tão ridículo que chega a ser irônico. Como podemos não conhecer a pessoa mais importante: nós mesmos?

Chego, enfim, a conclusão de que muito pouco sei sobre mim. Alguém me perguntou qual era minha característica mais marcante, e não consegui responder. Nunca havia pensado nisso e sinceramente, desconheço a resposta. Às vezes sou tão intensa que chego a ser tão apática quanto. Cansa-me ficar pensando, indagando e não conseguir transmitir todos esses sentimentos tão densos e confusos às pessoas, então, prefiro escrever ou, simplesmente, reprimi-los.

Com certeza, conhecer-se é como um trabalhoso quebra-cabeça, ao qual ficamos procurando as pecinhas ao longo da vida. Muitos desistem; porém, aqueles que persistem e conseguem enxergá-lo além da imagem, mesmo que nunca completo, são seres iluminados. Esses possuem as virtudes mais valiosas: compreensão e conhecimento porque é impossível sentir o universo, em sua infinita vastidão, se nada soubermos sobre um corpo e uma cabeça pensante que nos acompanham desde que viramos gente.

Sentimentos são como os atores principais da vida. Chorar é tão humano que nos torna, por alguns momentos, imensamente sensíveis, como deveríamos de fato ser. É sentir, doer, gritar. Um amar sincero é o maior presente que se pode dar a alguém: um abraço apertado, um beijo estalado, um olhar carinhoso. É permitir-se ser quem é. Tu, tu mesmo e nada mais! Abrir-se sem medo, livre de julgamentos e restrições. Ser puramente humano.

Publicado originalmente na Revista Malagueta (www.revistamalagueta.com).