Perda
Não sei dizer em que ponto me perdi de mim. Mas de qualquer forma é perda. Perda? Para que algo seja perdido, este deve de antemão ser achado e possuído. E então perdido.
Também não sei em que ponto exato achei-me, mas certamente já vivi a plena sensação de posse; posse da alma, como se por um instante acreditasse de todo e fielmente que possuía algo, quase o controlava. É bom acreditar que se controla. Mas o controlador é também o mais vulnerável ao controle.
E por um momento tem-se, e ao possuir a mim mesma, me engano achando que sei quem ou o que sou. Ninguém é nada, não sou nada, estou em constante estado de metamorfose e indagação. Agora estou escrevendo. Mas não sou escritora ou qualquer coisa parecida.
É, não se é nada. Tem-se. Mas acho que perdi o que tinha, e a pior perda é a sem nome. Exatamente, sem nome porque simplesmente não se sabe o que foi perdido. Assim, casual.
Perdi, mas não tenho qualquer idéia sobre nome, proporção, cor, forma, rótulo. Perdi, e não acho. Mas esta perda anônima é tão significante que me causa esta náusea de perda acidental, quase repentina, um descuido. Me perdi por falta de amor próprio. Meu, seu, dele, nosso. Perdido.