Perda

Não sei dizer em que ponto me perdi de mim. Mas de qualquer forma é perda. Perda? Para que algo seja perdido, este deve de antemão ser achado e possuído. E então perdido.

Também não sei em que ponto exato achei-me, mas certamente já vivi a plena sensação de posse; posse da alma, como se por um instante acreditasse de todo e fielmente que possuía algo, quase o controlava. É bom acreditar que se controla. Mas o controlador é também o mais vulnerável ao controle.

E por um momento tem-se, e ao possuir a mim mesma, me engano achando que sei quem ou o que sou. Ninguém é nada, não sou nada, estou em constante estado de metamorfose e indagação. Agora estou escrevendo. Mas não sou escritora ou qualquer coisa parecida.

É, não se é nada. Tem-se. Mas acho que perdi o que tinha, e a pior perda é a sem nome. Exatamente, sem nome porque simplesmente não se sabe o que foi perdido. Assim, casual.

Perdi, mas não tenho qualquer idéia sobre nome, proporção, cor, forma, rótulo. Perdi, e não acho. Mas esta perda anônima é tão significante que me causa esta náusea de perda acidental, quase repentina, um descuido. Me perdi por falta de amor próprio. Meu, seu, dele, nosso. Perdido.

Laura Romero
Enviado por Laura Romero em 15/06/2007
Reeditado em 15/06/2007
Código do texto: T528061
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