P O N T O

Era no tempo do Estado Novo, no começo. Para a amioria das pessoas da cidadezinha de Pesqueira tanto fazia Getúlio ser presidente como ditador, era trocar seis por meia dúzia. A vida continuava lenta, os operários labutando nas fábricas, os latifuindiários explorando os camponeses, os ´´indios sendo explorados e as pessoas proseando na pracinha. O único elo com o mundo exterior era o trem e o rádio. Não havia zoada, isso era coisa que só existia no estrangeiro.

Só havia uma loja de miudezas, fitas, botões, elásticos, berilos, tesourinhas, presentes e o escambal. Era a Casa de Seu Tito Rêgo, dirigida por ele, no começo so ele despachava. E esse cidadão era vidrado nos romances de capa e espada e de cavaleiros andantes, lia naqueles livros papel bíblia que tinham uma fitinha para marcar as páginas. Ele era um dos "pilares" da cidade, mas nem ligava, o que gostava mesmo era de ler os seus romances, e detestava ser incomodado quando estava lendo, ficava absorto. Mas era sempre interrompido. Era que chegava uma frequesa querendo ver o mostruário de botões ou comprar uma fita ou qualquer coisa. A dona dava bom dia ou boat tarde e fazia o pedido, Seu Tito absorto não ouvia o primeiro pedido, estava lendo uma cena de suspense, ela insistia, e ele no birô, absorto, ela tentava mais uma vez então o proprietário puto da vida mas fingindo educação dizia: "Espere um pouquinho quando der o ponto eu atendo!". Quando o parágrafo era longo ou o capítulo era muito empolgante ele demorava paca para atender. Só atendia quando dava o ponto. Era um tempo diferente, as pessoas até liam.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 17/06/2015
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