“1968 – O ANO QUE NÃO TERMINOU” – de ZUENIR VENTURA

O livro em análise, trata-se de um importante documento histórico, levando-se em conta as entrevistas e as declarações que estão ali inseridas, através da vivência do autor, que foi protagonista desta fase conturbada porque passou o Brasil, bem como os depoimentos de muitos dos atores dessa fase de ‘arbítrio’, conhecida em muitas facetas por nós que éramos contemporâneos, mas que a maioria da população leiga e grande parte da população ‘culta’ não chegou a tomar conhecimento e quando lhe apresentavam dados similares aos contidos neste compêndio, ficavam a matutar se os fatos narrados correspondiam com a realidade.

A verdade é que, quem não era militante estudantil ou de partidos e facções políticas, viveu à margem da história que se passava embaixo da sua janela, muitas vezes até dentro da sua própria casa.

Quantos pais de família foram surpreendidos por ações do DOPS, invadindo suas casas na madrugada para ‘pegar’ subversivos (todos que eram contrários ao regime e ao governo), ou mesmo para fazer apreensão de livros e documentos. Ai daquela família que tivesse em sua biblioteca quaisquer livros de Marx, por exemplo. Para alguns, como eu, ‘O CAPITAL’ não mexeu com minhas estruturas de centro-direita. Meu posicionamento sempre foi o mesmo, desde jovem. Desde que militei na política estudantil e cheguei a presidente do Grêmio do ICEIA, em 1956, com uma adesão de 4,5 mil alunos (as), venci todas as eleições a que me submeti contra os esquerdistas, que eram nossos amigos, apesar de trilharmos por caminhos ideológicos diversos.

Voltando a Zuenir Ventura, nesta obra magnífica, gostaria que os amigos e leitores tivessem a oportunidade de ler “1968 – O ANO QUE NÃO TERMINOU”.

Como disse anteriormente, os depoimentos, as frases e entrevistas de personalidades como Carlos Marighela, Carlos Lacerda, Juscelino Kubstchek, Vladimir Palmeira, a presença em cena dessas figuras históricas da nossa política contemporânea, a participação civil que dava uma certa legitimidade ao arbítrio, através de um Magalhães Pinto da vida (dono do Banco Nacional), bem como prisões de políticos como Márcio Moreira Alves, de jornalistas da estirpe de um Paulo Francis, a resistência de Alberto Dines e de tantos outros democratas, representa uma parte heroica da nossa história que não poderia deixar de ser retratada. Até mesmo as indecisões do presidente Costa e Silva, as pressões que recebia diariamente para ‘endurecer’ o regime que já era duro, fechamento do Congresso, prisões e cassações de políticos de todas as matizes ideológicas, tudo isso se desenrolando numa ordem cronológica que daria excelente filme de terror, uma espécie de guerra entre o ‘pensamento e a ação’ que perdurou por todo o ciclo ditatorial. Sem falar no fechamento do Teatro Opinião, na imposição da Censura prévia, e na perseguição e prisão de artistas, muitos deles obrigados a sair do país para um exílio forçado em países da América do Sul, mormente Chile e depois para países europeus como França e Inglaterra. Tudo isso acontecendo sob os olhos adormecidos da população que levantou-se algumas vezes em passeatas, mas que logo, logo, voltava à letargia que caracteriza a maioria esmagadora do povo brasileiro, pacífico e ordeiro, diante de fatos de barbárie que são muito bem registrados nessa extraordinária obra que acabo de ler e recomendo aos meus leitores e amigos, diante de uma época tumultuada que vivemos, com um governo que perdeu o norte e não sabe o que fazer diante dos desafios que se apresentam à sua frente.

Zuenir Ventura, autor da obra, foi recentemente eleito membro da Academia Brasileira de Letras e tem vários outros livros publicados. “1968 – O ANO QUE NÃO TERMINOU” que acabo de comentar pelo alto, para não tirar o interesse de leitura dos que não o conheceram ainda, tem bela apresentação de Heloisa Holanda, 311 páginas, sem ilustrações e trata de parte considerável da nossa história recente até a edição do AI5 – Ato Institucional nº 5 que enfiou o Brasil numa fase sombria, de prisões, torturas e mortes de pessoas como nós, mas que morreram ou foram torturados, apenas porque discordavam dos governantes.

Ricardo De Benedictis
Enviado por Ricardo De Benedictis em 17/06/2015
Reeditado em 20/06/2015
Código do texto: T5280135
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