BAILINHOS
A minha amiga Silvana Reis (Varginha/MG) postou em sua página do face um clip com Bert Kaempfert - Medley – 1967 e ao ouvir a música, fui transportado pelas lembranças daquela época.
Fins dos anos 60, vivíamos os anos de chumbo da ditadura militar, mas vivíamos também a tranquilidade da segurança individual e coletiva nas pequenas cidades, ainda que capitais de Estados, mas fora do eixo Rio/São Paulo.
Eu morava na zona oeste do Recife, num bairro afastado do centro, residencial por excelência, visto que as únicas atividades comerciais eram em torno da igreja matriz.
A padaria do senhor João Beirão, a mercearia do senhor Hilton Santos e a lojinha de miudezas.
Mais afastados da avenida principal (Av. Dr. José Rufino) ficavam o Engenho Uchoa, que produzia mel vendido em potinhos de cerâmica, a olaria do senhor Gama e a fábrica de tamancos (já a essa altura em franca ruína comercial vez que quase ninguém mais usava aquele tipo de calçado).
Havia também o Umuarama Tênis Clube onde as famílias se reuniam quase todos os sábados em festinhas super animadas pelos artistas da época como Núbia Lafayete, Adilson Ramos, Reginaldo Rossi, Renato e Seus Blue Caps...
Nós participávamos do grupo de jovens católicos atuantes tanto nas atividades da igreja como nos encontros e passeios.
Esses grupos formados por ideia de Dom Helder Câmara, eram chamados de “GRUPÃO” e objetivavam melhorar o contato entre os jovens e motivar o “engajamento” (termo muito utilizado na época) nas ações religiosas e sociais.
Fica claro, que eram monitorados pelo Exército e muitos daqueles jovens mais exaltados sumiram de uma hora para outra sem que ninguém desse conta do fim que tiveram.
O nosso era o Grupo de Juventude do Barro – GRUJUBA – com mais de cinquenta participantes.
Nenhum de nós tinha dinheiro bastante para estar em todas as festas do Umuarama, mas todos gostavam de dançar, então fazíamos as nossas festinhas que eram chamadas de Assustados, porque quase sempre os donos das casas não sabiam que iríamos chegar com os ingredientes da festa. Comidinhas preparadas pelas moças, refrigerantes, vitrolinha com os discos, e os dançarinos.
Afastávamos os móveis da sala, dançávamos bastante e depois limpávamos tudo deixando a sala tal como havia sido encontrada.
Mas nem sempre éramos bem vindos e para evitar mal estar com os pais dos nossos colegas, esperávamos pelo convite do dono da casa.
Os irmãos, Paulo e Florita Bandeira, quando ninguém se oferecia para ceder a casa, nos chamavam para dançar na casa deles porque seus pais, (Sr. Paulo e dona Odaler) sempre nos receberam com alegria e da melhor maneira possível e, quase sempre, com lanche para todos. Lembro-me bem dos doces maravilhosos que ela fazia...
Dona Odaler era uma senhora baixinha, com os cabelos totalmente brancos que ficava todo tempo conversando conosco e dizia que gostava de pessoas jovens porque têm alegria de viver.
E nós dançávamos abraçados, sem trocar de par até o final dos LPs, sentindo o perfume das moças, com os cabelos impregnados com laquê, que se pregava em nossos rostos quando derretido pelo suor.
Afinal a temperatura do Recife é alta e nós dançávamos por horas seguidas, quase sem parar, porque quando o relógio marcasse 22h, tal como no conto da Cinderela, o encantamento se acabava...