"ATIVO MORAL" OU "UM POUCO DE MALANDRAGEM"
Dia desses eu via um "post" sobre a Cássia Eller numa rede social e me lembrei duma música dela.
Gosto muito da arte de Cássia Eller.
O verso dum de seus sucessos é mais ou menos assim:
"Eu só peço a Deus um pouco de malandragem...e lá no fim ela diz: "eu sou poeta e não aprendi a amar".
Todos sabemos que MPB e poesia andam juntas.
Costumo dizer que ambas são simbióticas e a MPB por ser poesia musicada, obviamente como toda poesia, sempre nos manda um recado profundo e forte.
Bem, quando somos mais jovens não nos preocupamos muito com a mensagem poética, somos mais imediatistas, nos embalamos no rítimo, no timbre do som das músicas, no balanço da dança, no barato da hora, como dizem por aí...
Mas eu fiquei ali, frente ao post, imaginando com meus botões amadurecidos o porquê de se pedir um pouco de malandragem a Deus.
Parece blasfêmia num primeiro momento, não parece?
Não, não é, hoje entendo perfeitamente que não é.
É pedido de socorro mesmo, e os dois versos de Cássia se uniam num precioso poema: um pouco de malandragem para, se sendo poeta, enfim aprender a amar.
Ou poder amar...quem sabe. Pedir licença.
Falo de amor senso lato!
Amor, aquele amor essencial que permeia nossa essência humana, coisa simples, aquele que anda d emãos dadas com o respeito ao todo e que transforma o mundo.
Amargura no meu pensamento?
De jeito nenhum!
Mesmo porque sobrevivo sem malandragem alguma e me sinto algo heroína e super feliz...somente por isso. Que já é muito!
Portanto, é só análise da minha visão do mundo malandro que nos cerca, visão poética e bem realista dos entornos atuais.
E Cazuza certa vez também gritou: O POETA ESTÁ VIVO!
"Amanheceu o pensamento"!
Ninguém nem acreditava...
E ele estava certo!
Mas, ainda hoje em dia, quem teria coragem de ouvir amanhecer o pensamento estrategicamente tão abortado pelo tempo?
Pois é, Cazuza também alertou para todos os moinhos de vento...
E como os ventos sopram forte hoje em dia, não? Não sobra nada por aqui...
Mas vou contar um segredo sobre o que mais me movimentou nessa minha crônica/pensamento: foi uma fala do Reinaldo Azevedo que ouvi hoje pela manhã.
Engraçado que ela bateu fundo lá dentro de mim, me ecoou como movimento de vulcão.
Às vezes, a gente que é um pouco mais sensível aos acontecimentos com os outros e que também acontecem com a gente, por um instante acreditamos que estamos sozinhos dentre as pedras subliminares dos caminhos...
Bobagem!
Nunca estamos sozinhos porque existe um inconsciente coletivo que nos une aos iguais em sentimento, em visão, em percepção, em "modus operandis" de vida.
Em fortes conceitos perdidos no tempo.
Quem escreve sente tudo igual e é por isso que escrevemos.
Hoje vivemos num terreno minado da inversão de valores...
Ameaçou ser ingênuo convicto da sua ausência de malandragem a nadar livremente contra o fluxo das correntes...o mundo te engole.
Se se manifestar contra malandros então: o lobo mau te devora com unhas e dentes e lambe os beiços!
E ainda chama o entorno para comemorar a festa.
Mas eu não desisto de amanhecer meu pensamento, aliás, eu o reamanheço todos os dias.
Com o tempo perdi o medo dos lobos maus, se é que um dia o tive.
Sou teimosamente um ser pensante por natureza.
E sei plenamente que para sobreviver hoje em dia há sim que se ter uma boa dose de malandragem, senão é milagre...
Por isso vivo em constante aventura. A de existir por milagre.
Ara, e milagres não acontecem com qualquer um de nós?
Pois é...lhes garanto que milagres existe.
Então, digo que carrego alguns chicotes subliminares ao pensamento, à simples postura de vida pela vida, mas apenas procuro ser coerente com o que penso e acredito, e digo que não rasguei a ética, não sou "baba-ovo" e por isso ganhei experiências que TAMBÉM as sinto como grandes e anônimos troféus...
E claro, guardo tal sentimento comigo ao logo de algum tempo, o de que agir conforme o que se acredita tem seu preço...mas tem imensurável valor. E COMO É BOM PAGAR POR ELE.
E hoje ouvi do Reinaldo, momento em que ele informa ter sido criticado publicamente por se manifestar contra certas malandragens da hora, dessas que todos temos notícias,mas que não são nem um "tiquinho" cedidas por Deus:
"SER ALVO DE ZUMBIS VIROU ATIVO MORAL"
Reinaldo Azevedo na rádio Jovem Pan
Foi assim que terminou seu editorial de hoje.
Bem, me senti descoberta na intimidade do pensamento.
Extra: O poeta foi descoberto e acordou!
Amanhecia meu pensamento logo "de manhazinha" via rádio Jovem Pan de Sampa.
Impressionante a identidade de sensação...
Há aqueles que conseguem em poucas palavras dar um "xeque-mate" nos sentidos dos outros...e nos desnudar dos sentimentos mais profundos.
Então, termino minha crônica dizendo:
Chega de "museus de grandes novidades"!
Vamos à coragem de dizer...NÃO!
À Deus, portanto, não peço sequer um pingo da obsolescente malandragem!
Essa tão perene que anda por aí...de vozes cada vez mais arrogantes e dissimuladas.
Opto pelo o ativo moral. Sempre! Doa a quem doer porque nunca dói em mim.
Só assim a gente se sente pleno para existir com propósito de verdadeira voz pelo no nosso tempo tão atípico de ativos nobres.
Um tempo que inverte verdades, furta a consciência e nos rouba todos os sentidos.
Um tempo inundado de seres Zumbis...
Um tempo em que para se ser poeta é preciso morrer para se ousar amar.