Os velhos do Brumado

No povoado fabril onde nasci e comecei a me criar, até a entrada para a escola, o número de pessoas idosas era bem raro, num universo de algumas centenas de indivíduos. Ou se era operário, ou filho de.

Havia umas poucas exceções quanto a essa determinação profissional, que se contava entre os comerciantes, ferroviários, e algum elemento avulso que integrava aquele cosmos em que todo mundo se conhecia de vista e de nome, e não raro, de apelido.

Mas e os idosos? Tento contá-los, puxando pela memória mas não sei se chego a uma dúzia. O que é certo é que todos eles eram pais de operários e, predominantemente, senhoras viúvas.

Era o caso de vovó, que quando nasci contava seus bons sessenta anos. Sessenta anos é velho? Hoje não acho assim, mas não ouso lançar essa pergunta a jovens escolares...E quem mais, além de vovó

Inhana?

Bem havia dona Fina, a da berruga na ponta do nariz, dona Cristina que morava com um bando de gatos e um casal de filhos solteiros, por Banga popularmente chamados; havia a viúva que volta e meia matava um porco e o sapecava na porta de sua casa, mas que nome mesmo não declinava; e tinha sua vizinha, Dona Otília, mãe de uma penca de filhos

já em processo de constituição de famílias e, mais pra cima da casa de Otília, morava Dona Lia Fidélis, mãe de filhos dirigidos à vida religiosa, e que aparentemente netos não esperava, e não por santidade, pois parecia que crianças lhe causavam só antipatia, e na igreja, beliscá-los era o que soía...; e vinha o casal Amaral, Mariana e Sextulano, regendo sua prole toda adulta...; Dona Maria do Gercino, viúva de um ex-gerente da fábrica, cheia de filhos e parteira nas horas vagas, voluntárias, não pagas

E páro por aqui, exaurido de lembrança de mais gente encanecida, que por duas gerações nos precedia na marcha inexorável da vida...Mas convenho que me pareceu um censo fácil dada a escassez de conteúdo. Mas se alguém de mais alguém se lembrar, tudo mudo.