MEMÓRIAS ( 3 )
Não tenho lembrança dos dias chuvosos em minha infância. Nem me ocorre o que fazia. Lembro-me dos dias ensolarados. No quintal de nossa casa havia muitas árvores. Em sua maior parte, eram árvores frutíferas:abacateiros, laranjeiras, limoeiros, pereiras, figueiras, mamoeiros, jabuticabeiras, araçazeiros, goiabeiras e ameixeiras. Os abacateiros e as ameixeiras eram os meus preferidos:
No abacateiro eu subia bem alto e me escondia na folhagem, de lá eu olhava o mundo e minha mãe não podia me achar, não sabia se eu estava em casa ou se tinha fugido pra casa da vizinha; uma das ameixeiras tinha um galho baixo, bem liso e ajeitado que me servia de barra, onde passava tempos de cabeça para baixo, com um morcego, a olhar o mundo de outro ângulo. Contudo, o meu lugar preferido naquele quintal, era uma depressão cheia de terra fofa, no galinheiro.
Minha mãe ficou órfã (de mãe) aos quatro anos e casou-se muito cedo, aos dezessete. Nasci quando ela tinha vinte e um. Meu pai era nove anos mais velho e, literalmente, cuidava dela. Apesar disso, era exigente em relação à forma como ela cuidava de nós. Estávamos sempre limpinhas, arrumadas, com os cabelos presos em tranças amarradas com fitas de tafetá xadrez ou de cetim colorido. Mamãe costurava e muitas vezes bordava nossas roupas, que eram sempre alvas e bem engomadas.
Falava eu, pois, sobre o galinheiro, onde havia patos perus e galinhas. Eu conhecia as aves uma por uma, sabia as cores das penas e fazia um escarcéu quando matavam alguma. Precisavam esconder as penas para que eu parasse de chorar e, é claro, nunca comi a carne de animal de casa. Todavia, o maior problema de minha mãe, não era esse. Aves, pisando e ciscando a terra, vão separando os grânulos, formando depressões onde se acumula poeira fina. Elas utilizam essa poeira para livrar-se de piolhos e outros parasitas. Pois era justamente esse o lugar preferido de minhas brincadeiras. Muitas vezes, já banhada, penteada, com roupa limpinha, eu entrava lá e me sentava na terra para brincar com aquela poeira. Esqueci-me de contar que no quintal também havia um pé de eucalipto. Era dele que vinha a varinha descascada, à minha espera, quando aprontava minhas artes.
Não tenho lembrança dos dias chuvosos em minha infância. Nem me ocorre o que fazia. Lembro-me dos dias ensolarados. No quintal de nossa casa havia muitas árvores. Em sua maior parte, eram árvores frutíferas:abacateiros, laranjeiras, limoeiros, pereiras, figueiras, mamoeiros, jabuticabeiras, araçazeiros, goiabeiras e ameixeiras. Os abacateiros e as ameixeiras eram os meus preferidos:
No abacateiro eu subia bem alto e me escondia na folhagem, de lá eu olhava o mundo e minha mãe não podia me achar, não sabia se eu estava em casa ou se tinha fugido pra casa da vizinha; uma das ameixeiras tinha um galho baixo, bem liso e ajeitado que me servia de barra, onde passava tempos de cabeça para baixo, com um morcego, a olhar o mundo de outro ângulo. Contudo, o meu lugar preferido naquele quintal, era uma depressão cheia de terra fofa, no galinheiro.
Minha mãe ficou órfã (de mãe) aos quatro anos e casou-se muito cedo, aos dezessete. Nasci quando ela tinha vinte e um. Meu pai era nove anos mais velho e, literalmente, cuidava dela. Apesar disso, era exigente em relação à forma como ela cuidava de nós. Estávamos sempre limpinhas, arrumadas, com os cabelos presos em tranças amarradas com fitas de tafetá xadrez ou de cetim colorido. Mamãe costurava e muitas vezes bordava nossas roupas, que eram sempre alvas e bem engomadas.
Falava eu, pois, sobre o galinheiro, onde havia patos perus e galinhas. Eu conhecia as aves uma por uma, sabia as cores das penas e fazia um escarcéu quando matavam alguma. Precisavam esconder as penas para que eu parasse de chorar e, é claro, nunca comi a carne de animal de casa. Todavia, o maior problema de minha mãe, não era esse. Aves, pisando e ciscando a terra, vão separando os grânulos, formando depressões onde se acumula poeira fina. Elas utilizam essa poeira para livrar-se de piolhos e outros parasitas. Pois era justamente esse o lugar preferido de minhas brincadeiras. Muitas vezes, já banhada, penteada, com roupa limpinha, eu entrava lá e me sentava na terra para brincar com aquela poeira. Esqueci-me de contar que no quintal também havia um pé de eucalipto. Era dele que vinha a varinha descascada, à minha espera, quando aprontava minhas artes.