Minha poesia mundo afora

Minha amiguinha desafinando o coro dos aplausos: “Você vive no mundo do faz de conta”. Aí, eu digo poeticamente: “Quando juntar o meu faz de conta com tuas bonitas quimeras, vamos montar um castelinho de vento e brincar de ser borboletas”. De resto, qualquer resto de imaginação alimenta minha cabeça de sonhos.

Também de resto, a grande poesia é consequência de nossas fraquezas. Só uma pessoa cheia de debilidades pode construir jogos de palavra que não mudam nada, não enfrentam a dureza da vida e necessitam de pessoas imaginativas para sobreviver. E se morre a cada poema. Até as flores sucumbem um tantinho para soltar seu cheiro. Outro conceito que me vem à cabeça: o verdadeiro guerreiro é o que luta por nada. O que isso significa? Desculpe, é outro jogo de palavras, me dê o prazer de lhe ver empenhado no desafio da decodificação.

Ainda de resto, e haja restos a subsistir, encontrar leitor para sua poesia anêmica é quase um milagre, mas eles existem, os leitores e os milagres. Um desses apreciadores do meu trabalho é Vitório Sezabar, de Bom Jardim, no Rio de Janeiro. Ele acha que eu consegui compor um bom soneto. Trata-se de “Perpetuação”. “Como dizem os portugueses, ‘muito bem conseguido. Parabéns!”

O mesmo “Perpetuação” agradou ao Léo Bargom, de Brasília. Ele diz que tem 54 anos de idade e é aprendiz de trovador. Sobre meu soneto, ele versejou:

Versos de um poeta aflito

Embeleza o mundo em conflito

Pedindo vida aos mortais.

Agora digo então

Esses versos são bonitos

Guardarei na minha mente

Agora, daqui pra frente,

Não olharei para trás.

Dasilmel mora em Duque de Caxias, Rio de Janeiro. É uma jovem de 20 anos. Sobre “Perpetuação”, assim escreveu: “Esta é o tipo de poesia que chama atenção. Parece que vem do infinito. Perfeita poesia. Parabéns.” Na hora, lembrei de uma frase, não sei de quem: “Em meu infinito, não cabe mais que uma estrela”. Quem sabe, não seria aquela estrela que provocou o coral dos meus adeptos.

E por fim, tem o meu compadre Dedé Arnô de Nova Russas, no Ceará. Pediu uns versinhos de cordel com o tema “Segurança alimentar”, para fazer parte de trabalho na Escola Almir Mendes Guedes. Mandei na hora algumas sextilhas. Dedé respondeu: “Compadre Fábio, você é um gênio!”. Eu só pensando: “Ó Nossa Senhora do Martelo Agalopado, escutai minha prece, mandai inspiração pro Ceará, pra Serrinha e pro Apertado da Hora, que teu povo tem fome e sede de poesia”. Muito melhor ser declamado pelos alunos de Nova Russas do que sair no Correio Literário e ninguém ler. O Ceará está sol-letrando meus versinhos cordelescos, e isso não é pra qualquer um!

Dedé Arnô me pediu

Em um breve versejar

Que falasse desse tema:

Segurança alimentar.

Por isso canto esse mote

Na batida do ganzá.

É preciso analisar

O que se bota na boca

A condição de consumo

E tudo o que ela provoca

De onde vem e como foi

Produzida a jurupoca

Que é peixe de pororoca

Mas é tudo perecível

Vegetal ou animal

Pois nem tudo é consumível

Alimento é perigoso

Pode se tornar terrível

Se não for bem atingível

As normas de produção

Transporte, armazenamento,

Tem a padronização

São regras pra evitar

Toda contaminação.

Microrganismos estão

Atuando no alimento

Protozoários e vírus

Podem ter acolhimento

No leite, pão ou batata

Em clima que é bolorento.

Por outro lado, intento

Falar sobre esse direito

Que é de se alimentar

Com quantidade e proveito

Que seja suficiente

Pra abastecer o sujeito

E que seja desse jeito:

Respeitando o habitual

Com comida conhecida

Na quantidade normal

Em produção sustentável

Conforme o tom cultural

E também ambiental

Do grupo comunitário

É um direito humano

Regular e necessário

A comida adequada

Em projeto solidário

Seja então depositário

De respeito e atenção

O homem de baixa renda

Que tem pouca condição

De prover o alimento

E garantir o seu pão.

Sem faltar educação

Com base nutricional

É o que garante o Governo

Como eixo transversal

Do programa alimentar

De projeção nacional.

O plano institucional

Dá comida e leva cesta

Para famílias carentes

Que tenham vida indigesta

As pessoas vulneráveis

Da cidade e da floresta.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 16/06/2015
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