Bem me quer, Mal me quer
E aí, ela gostou do colégio? Da professora?
Ele gostou do presente?
Eles gostaram do filme?
E do jogo? Da empresa? Da psicóloga?
Gostar é aceitar com afeto. É quando ficamos perfumados com o perfume que vai na alma do outro.
O gostar real é leve. Sem obrigações. Mas cada um tem um olhar especial para aquele de quem gosta. Há quem goste em silêncio. Há quem goste e deixe que o mundo saiba. Há quem goste ficando por perto. Há quem goste dando espaço. Há quem goste, querendo não gostar.
Gostar é deixar claro que algo de muito bom está vivo em nós. Não morremos para aquilo que nos toca o coração. Ainda nos alegramos com coisas, pessoas ou lembranças. Temos fôlego para nos encantarmos, apesar de tudo.
Por outro lado, há quem desgoste de muita coisa.
E onde será que moram dentro de nós as coisas e pessoas que desgostamos?
Cada um tem um cantinho especial para guardar estas coisas e amores ao contrário. Isso é muito pessoal e dispensa palpites.
O caso é que há pessoas que, quando desgostam, lançam para o mundo o baú de agressividade que guardam em si. Desgostar não é mais uma opinião. É uma necessidade. Elas precisam desgostar para gastar a raiva contida. Assim, dão voz a sua arrogância.
Muita violência física e verbal é justificada assim: a gente não gosta daquele time, daquele colega esquisito, daquela lei nova, daquele partido, daquele vizinho, daquela faixa de segurança, daquele professor, daquela aula, daquele emprego, daquele comentário, daquela “cara”. Desta forma, nos autorizamos a destruir aquilo que não concordamos. Lança-se sobre as coisas que desgostamos uma agressividade alojada há tempos e que, por ironia ou falta de autoconhecimento, mandamos para o endereço errado. Desgosta-se de uma coisa e desconta-se em outra.
Em um mundo onde estamos sendo tratados cada vez mais como clientes, o gostar é fundamental. O aluno que paga bem a mensalidade tem que gostar da instituição.Não precisa aprender! Basta gostar.
E, em nome das coisas que desgostamos, aliadas à falta de políticas públicas e estrutura emocional, vamos criando um tsunami de atitudes destrutivas. Poucos lidam com a frustração. Ouvir não, e não surtar, é uma prova de sanidade.
“Não” é uma palavra de luxo de quem tem o poder. Seja por meio de dinheiro ou de violência.
Porém, há um meio termo que representa o equilíbrio, e que acredito ser o caminho para a sobrevivência pacifica entre nós: o respeito. O respeito faz morada em pessoas maduras, centradas e que preservam os valores. Independentemente da idade.
Nem sempre nossas decisões caminham pela via do gostar, mas sim, pela via do respeitar aquilo que se faz necessário e, também, aquilo que funciona de maneira mais saudável possível para a sociedade como um todo. Luto pelo que gosto e acredito, respeitando o que vier. Sem ter a obrigação de gostar.
Existem caminhos que trilhamos, não porque gostamos, mas sim porque são necessários. Acredito que o respeito seja um caminho possível.
E se não for, cabe lutar e respeitar a realidade do jeito que se apresenta. Mesmo assim, com gratidão em forma de uma vida bem vivida.
Abraço
Fernanda Nunes Gonçalves