A PORÇÃO CANALHA

Todos, sejamos francos, usamos máscaras. Várias no decorrer do dia trocamo-las. O único perigo que corremos é usar em determinado momento a máscara errada, imprópria àquela hora. A vida, já dizia Machado, se não me engano, é um baile de máscaras com intervá-los de ópera bufa. Mas alguns se irritam quanto tocamos nesse assunto.

Por mais que procuremos ser duros, francos, inflexíveis, metidos a imparciais, o tratamento que dispensamos a um figurão nunca é o mesmo que usamos para um pequeno. Para o graúdo usamos a máscara de servil; para o pequeno a de algoz. É sempre assim. Ces't la vie.

Na verdade todos temos a nossa porção canalha. Na maioria ela é administrável, contida, quase nem nós notamos,m mas está entranhada na gente, viva e bulindo. Mas em certa pessoas ela é visível, escancarada, escrachada. Detalhe: o canalha escancarado é talvez alguém mais sincero que o enrustido e fingido. Prefiro o canalha escancarado, o canalha em tempo integral, o canalha que usa uma só máscara, a sua própria cara. O fingido causa mais mal. Juro.

Dói quando constatamos que usamos máscaras, principalmente a de canalha enrustido. Dói mas passa, tudo passa, mas a nossa porção canalha permanece. É preciso apenas contralá-la para evitar um surto de canalhismo.

Sinto asco pelo canalha, mas sei que todos nós, repito, temos a nossa porção canalha e o nosso estoque de máscara. Vida que segue, infelizmente com essa triste realidade: a porção canalha.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 15/06/2015
Código do texto: T5277645
Classificação de conteúdo: seguro