NÃO COMBINA COM AMOR

Naquele tempo sempre existia amanhã. Não havia essa urgência, esse afã frenético, em busca do prazer.
A semente do amor buscava a luz do bem querer, se alimentava da terra farta da ternura, e se deleitava com a água fresca das carícias.
De repente, os costumes, entraram num turbilhão, onde a urgência é a bola da vez.
Essa pressa sem fim, pode até funcionar para certas coisas, mas não, não combina com amor.
Amor pede entrega, renúncia, conhecimento de si mesmo, e do outro, necessita de encantamento, de compreensão, de companheirismo, e compartilhamento. E, tudo isso, só pode acontecer com o concurso do tempo.

Naquele tempo sempre existia amanhã.
A vida corria sem tanta pressa, e havia tempo para amar e ser amado.
Na pracinha, na quermesse, no bailinho de final de semana, ou no colégio, os primeiros olhares eram trocados, demorava-se um bom tempo, nesse flerte delicioso. O segundo momento, era o da aproximação, a mão na mão. Caminhar de mãos dadas, era símbolo de compromisso.
Demorava-se uma eternidade para a troca de um beijo, de uma abraço mais caliente.
O namoro acontecia no portão de casa, na matinê do cinema. Até evoluir para o noivado, e por fim o casamento.
Tantas juras de amor eram trocadas, planos e mais planos, sonhos, quantos e quantos sonhos, eram sonhados. Era um período de puro encantamento. Até mesmo, as briguinhas, o ciúme, eram vivenciados com prazer, pois, havia o momento de fazer as pazes, e esses instantes tinham um delicioso sabor.

Hoje, época em que o romantismo se escondeu, se contamos sobre esses fatos que fizeram parte da nossa juventude, aos jovens, a reação da maioria, é de incredulidade, diante das mudanças tão radicais sofridas pela sociedade.
Alguns jovens, no entanto, gostam de nos ouvir contar, sobre nossas reminiscências, e chegam até a dizer que gostariam muito de viver em tempos tão românticos.

Relembro o ontem, e observo o hoje, afinal não faz tanto tempo assim.... porém, as mudanças em torno dos relacionamentos, sofreram tantas e tantas alterações de costumes, que parece que o tempo em que eu fui jovem, faz mais tempo, do que de fato faz.


(Imagem: Lenapena)

 
Lenapena
Enviado por Lenapena em 14/06/2015
Reeditado em 14/06/2015
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