DILMA E JÔ
Eu assisti na íntegra à entrevista que Dilma concedeu a Jô. Li, há pouco, em algum espaço na Internet, inúmeros comentários críticos nos quais os comentaristas, como se diz por aqui, tiraram dos cachorros e colocaram nos dois: Dilma e Jô. Fiquei ali pensando sobre o que tem nas cabeças dessas pessoas. Em primeiro lugar, entendo que, por força do fenômeno da comunicação, há muita gente que, não apenas acredita, mas adora que a mídia seja um governo acima do Governo. Quem quer resolver algum problema de qualquer tipo sempre se vale dos meios midiáticos. Eu também. E isto de dispor de um canal para acusar, denunciar e compartilhar fatos, a exemplo de crimes, buracos nas ruas, tragédias climáticas, acontecimentos políticos e mais e mais tem muito de útil e positivo. A imprensa chegou a tal ponto de poder que algum jornalista se largou do Brasil na direção de Paris para tomar satisfação com os franceses por terem concedido uma condecoração ao Lula. A petulância da mídia, especialmente a televisiva, beira o ridículo. Jornalistas e artistas têm sempre a última palavra, a definitiva. Até são juízes que se antecipam a todo o processo de um julgamento. Senhores e senhoras de todos nós, escravos da informação, os jornalistas agora ditam as normas da Língua Portuguesa, descarando os maiores e mais importantes linguistas do planeta. Esse pessoal do mundo da informação se deu o Oscar. A tudo os profissionais da comunicação se dão direito, voz e razão. Eu quero mesmo é saber porque Jô Soares, ou seja quem for, teria que entrevistar políticos ou não políticos, valendo-se das artimanhas da linguagem que usam, colocá-los contra a parede, fuzilando-os na Indonésia da Comunicação. Quero saber que gosto é esse que eles desenvolvem e nós cultivamos de ver pessoas sendo humilhadas diante do mundo. Penso que isto jamais aconteceu com o Putin. Sob o pretexto mafioso de nos estar ajudando a pensar, a ser esclarecidos, muitos operários da mídia se julgam os reis da cocada doirada e nos constrangem como se estivessem propalando aos mares, aos ares e aos territórios que somos umas toupeiras. Não podemos gostar gratuitamente da Dilma, aquilo da química também não funciona, se gostamos de Dilma, obrigatoriamente eles, sem nossa permissão, nos alistam nas fileiras do PT. E até nos chamam de corja, ladrões, petralhas. Além de ridículo, é engraçado, desproposital e da mais supina ignorância. E se não é ignorância, é desfaçatez. Tanto Dilma quanto qualquer outro presidente, em todas as partes do mundo e em todos os tempos se utiliza de um discurso preparado, convencional, ensaiado, teatral. É praxe. Não importa a pessoa eleita, não importa o partido vitorioso, sempre foi, é, e assim continuará sendo. Sabem o que é bem pior? É ter, como eu, alcançado na minha infância e adolescência aqueles velhos (e novos também) líderes políticos nordestinos que falavam esticando durante minutos as sílabas das palavras, além de abrirem tanto a boca, tremendo os lábios durante o tempo em que discursavam. Além da parte sonora, a parte visual era quase uma peça trágica, aí é que o comício esquentava. O candidato no palanque acompanhado dos aduladores e papagaios de pirata, se esticava, balançava os braços e começava: MEUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU
POOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOVOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO! POOOOOOOOOOOOOOOOOOVOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO DE SERGIIIIIIIIIIIIIIPEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE! EUUUUUUUUUUUUUUU
PROMETOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO. Então, aquele povo de Sergipe aplaudia em delírio de JÁ GANHOU JÁ GANHOU JÁ GANHOU. Nem o candidato havia dito o que prometeria, mas todos logo cuidavam de apoiá-lo. Os do outro partido, eram apenas dois, uma partida de futebol, diziam LADRÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
SAFADOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO MENTIROSOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO Graças a Deus essas cenas estão rareando, mas ainda existem e em muito pioradas, pois aqueles horríveis carros de trio elétrico fazem uma barulheira tremenda, atrapalhando o discurso do mentiroso e ladrão. Pra que isto? Pra que essa falta de educação e de civilidade? Ah, havia também vaias, havia crimes políticos, vinganças bem ao gosto dos mafiosos da Cosa Nostra. Eu vi de tudo, político distribuindo sacos de cimento, dentaduras e outras esmolas, mas minha casa minha vida que é bom, ninguém dava. Todo bichinho ali, no cabresto. Eleitores de cabresto. Depois que o cidadão era eleito, vinha a festa popular, na praça. Depois, era a vez da festa burguesa, no palácio, nadando em vinhos caros, champanhe e mais o que de bom se bebe e se come, inclusive mulher. Os pobres mais ou menos comiam cuscuz com ovos, delícia da cozinha nordestina. Os pobres pobres comiam bolachão com um café fraquinho e, às vezes, até sem açúcar. Agora me vem à mente que, neste texto, profiro um discurso e me esqueço de que falava de Dilma e Jô. Pois agora digo que ela merecia aquela conversa amena e arrumadinha, ela merecia um momento descontraído em meio a tantos “meigos”. Mas, cuidado, Dilma, que o Cunha e o Renam nada têm de meiguice. São uns abutres esperando você derrapar com a bicicleta.