O conserto do ventilador
A campainha toca. A dona da casa vai atender. Vê pelo olho mágico um jovem com crachá de alguma empresa e uniforme. Para que sua cachorrinha, que apesar de velhinha, ainda dá uma boa canseira em estranhos não atacasse o jovem desconhecido, ela o atende pela janela.
- Pois não? O que deseja?
_ Recebi um chamado para vir consertar um ventilador de teto, cuja luz não está funcionando.
- Meu jovem, daqui não partiu nenhum chamado.
- Mas aqui não é Rua Bela, número 27?
- Sim, mas tenho total certeza que ninguém fez este chamado.
Mas antes que o jovem fosse embora ela diz:
- Deve ter enganado o número, deve ser algum vizinho quem fez o chamado.
O rapaz insiste:
- Não, eu escutei bem ao telefone: Rua Bela, número 27. Tanto que o senhor que falava comigo ao telefone até disse o nome mas eu não prestei atenção, preocupado em gravar o endereço.
A senhora disse:
- Olha, com certeza daqui não foi. Mas já que você está aqui será que não poderia entrar e ver o que há de errado com meu ventilador de teto? A lâmpada funciona, mas o ventilador não!
O jovem prestativo respondeu que sim.
A senhora então prendeu a cachorra e colocou sua sogra, que estava almoçando à mesa sobre a qual ficava o ventilador, para comer à mesa da cozinha. Depois arrastou a mesa de lugar para o jovem eletricista verificar o defeito do aparelho.
- Disseram-me que ele está condenado, que terei que comprar outro, pois não vale a pena consertar este. Ele deve ter quebrado o motor, foi o que me informaram. Disse a senhora.
- Talvez não senhora, possivelmente seja apenas uma peça simples. Vou ver.
Após verificar o defeito, o rapaz constatou que era mesmo apenas uma pecinha que havia fundido e que poderia ser reposta.
A dona de casa perguntou se era fácil encontrar tal peça e se ele se disporia a voltar no dia seguinte para consertar, depois que ela comprasse a peça.
O rapaz concordou prontamente.
Depois que o jovem saiu, a dona de casa ficou um pouco surpresa com a coincidência dos fatos. Também ficou na dúvida se não cometeu um engano ao deixar um desconhecido entrar em casa e sem ser chamado. Mas sua vontade de ver o ventilador funcionando era tão grande, que apenas acreditava que, de alguma forma, o destino lhe ajudava. Afinal o último verão tinha sido o mais quente registrado há décadas e almoçar e jantar naquela sala sem ventilador ou ar condicionado tinha sido um verdadeiro suplício. E havia mais de dois anos que o ventilador esperava um conserto ou ser substituído. Decidiu que não contaria nada ao marido até ver o ventilador funcionando em perfeito estado, pois acreditava que certamente ele se zangaria com sua atitude.
Quando o marido chegou à noite, sentou-se à mesa da sala de jantar para fazer sua refeição noturna, e tentou acender a luz, perguntou à esposa porque a lâmpada do ventilador não estava funcionando. Ela disse que não sabia. Mas lembrou-se do jovem e ficou na dúvida se ele tinha cortado a luz do ventilador. Foi então que o marido viu um resto de fita isolante e perguntou se ela tinha tentado consertar o ventilador. A dona de casa, para não ouvir gritos e reclamações sobre uma pessoa estranha entrar na casa e mexer em aparelhos sem a permissão dele, disse que sim. Ele mesmo assim gritou: "Você está maluca? Poderia ter provocado um curto circuito na casa!"
A esposa, triste por ouvir que o comentário dele apenas se preocupava com o curto circuito na casa, e não que ela tomasse um choque e se ferisse, respondeu calmamente: "É, eu estava errada."
No dia seguinte, ela comprou a peça e aguardou que o eletricista viesse. No horário combinado ele não chegou, mas como estava com o número do celular dele ligou e perguntou se ele estava vindo. Temia que ele tivesse se esquecido ou que não se preocupasse em fazer aquele serviço. Ele atendeu ao telefone e disse que estava chegando. E realmente, com 15 minutos de atraso, ele chegou.
Pegou a peça, colocou no lugar e o ventilador funcionou. Foi então que ela se lembrou que a lâmpada não estava funcionando.
- Por favor, veja se a lâmpada está acendendo.
Ele verificou e viu que a lâmpada não acendeu.
- Mas que estranho, eu nem mexi no fio da lâmpada. Olhe -mostrou ele - os fios são separados. Mas não tem problema, isso é simples de arrumar. - rapidamente reparou o defeito e lâmpada e ventilador funcionaram perfeitamente.
A senhora perguntou ao jovem se ele tinha questionado na vizinhança se alguém tinha feito o chamado.
- Olha minha senhora, eu perguntei no número 17, 37, 47, 57, 117 e depois não perguntei mais. Nada, nenhum destes locais tinha feito o chamado. Contei o fato para meu supervisor e ele disse: "Você deu o tiro no coelho e acertou na lebre!". "O mais curioso é que o defeito do chamado era parecido. O senhor tinha me dito que o ventilador funcionava mas a lâmpada não, aqui o ventilador não funcionava mas a lâmpada sim", constatou a dona de casa. O jovem, antes de ir embora, disse: "É, esta história vou guardar para o resto de minha vida profissional!"
A peça e o serviço do jovem ficaram respectivamente em R$ 7,50 e R$ 35,00 apenas! Muito pouco para ficar tanto tempo sem o conserto, não acham?
Quando o marido chegou à noite e foi ligar a lâmpada e percebeu que ela estava funcionando, perguntou à esposa se ela havia consertado. Temendo sua reação ela mentiu e disse que sim. Pensou: "Vou esperar um momento em que ele estiver mais calmo para contar este fato inusitado."
Depois de alguns dias ela falou, e ele, já acostumado com estes pequenos fatos 'diferentes' que sempre acontecem com a esposa, disse: "Meu bem, você queria tanto o conserto desse ventilador, pois o achava bonito, e foi atendida. Agora que tal pedir para gente ganhar um bom dinheiro para trocarmos o carro?"