Uma música namorada
Não sei se é você quem pede a música ou é ela que se impõe. Em qualquer caso, fato é que a procuramos. Já vi gente bater perna em São Paulo, quase como uma obsessão, para achar “uma música” do seu agrado. E quanto maior era a cidade, mais se andava, até certo ponto incansavelmente. Chegou a hora em que aconselhei “deixar prá lá”; mas existia no amigo uma espécie de paixão como quem procurasse na multidão uma mulher fatal, com quem se afinara à primeira vista, namorada desejada a qualquer custo; caminhava como à caça do prazer, imaginando o corpo dela num orgão, num violão, num violino, num violoncelo; coisas das quais sai música bela... Falei em vão que eu também tinha de procurar algumas encomendas, compromissos com os quais não poderia falhar. Mas, o amigo não me dava ouvido, à busca da sua música, cujo nome ele próprio não recordava; esforçava-se em cantarolá-la, e cada vez mais, talvez pelo cansaço, em diferentes solfejos.
A certa altura da caminhada, insinuei voltar para o hotel e deixá-lo na sua empreitada. Foi quando reagiu: - Se é amigo, quando mais preciso, não me deixe sozinho; eu também estou cansado. Ousei sugerir que também se procurassem outras coisas, já não aguentava mais ouvir pedaços de uma música mal cantarolada ou assobiada. Aqui e acolá, havia vendedor que tentava ajudar também cantarolando alguns “lá – lá –lá”. Então, a confusão aumentava, ao ponto de se pensar que se procurava mais de uma música. Escondido, liguei o telefone ao aplicativo “Sazan” que revela o nome da música executada. Mas, quando ele cantava ou assobiava, lia-se: “Não encontramos resultado” (...)
Era fim da tarde, as lojas fechavam, e eu, para me recuperar dos constrangimentos, sugeri ir ao shopping, onde as lojas só fechariam às 22 horas. Riu e balbuciou: “Tá certo”. Tentei ajudar, indagando se estávamos à procura de uma música clássica, popular, cantada ou apenas orquestrada. Entendeu a pergunta como uma ironia. Tomei a decisão de ficar calado, só saindo do silêncio quando ele, enfim desiludido e com fome, sentiu a hora de jantar. As pernas não aguentavam mais, então encontramos um confortável restaurante; e logo à entrada, pedimos ao garçom pressa, água e cardápio. O garçom retrucou: - Chego já. Depois de certo tempo, perguntou: - “O que vão beber?”. Ele, sem dar resposta, levantou-se bruscamente em direção ao pianista, e lá ficou, por longo tempo, pedindo que se tocasse “uma música” que ambos não sabiam...
Não sei se é você quem pede a música ou é ela que se impõe. Em qualquer caso, fato é que a procuramos. Já vi gente bater perna em São Paulo, quase como uma obsessão, para achar “uma música” do seu agrado. E quanto maior era a cidade, mais se andava, até certo ponto incansavelmente. Chegou a hora em que aconselhei “deixar prá lá”; mas existia no amigo uma espécie de paixão como quem procurasse na multidão uma mulher fatal, com quem se afinara à primeira vista, namorada desejada a qualquer custo; caminhava como à caça do prazer, imaginando o corpo dela num orgão, num violão, num violino, num violoncelo; coisas das quais sai música bela... Falei em vão que eu também tinha de procurar algumas encomendas, compromissos com os quais não poderia falhar. Mas, o amigo não me dava ouvido, à busca da sua música, cujo nome ele próprio não recordava; esforçava-se em cantarolá-la, e cada vez mais, talvez pelo cansaço, em diferentes solfejos.
A certa altura da caminhada, insinuei voltar para o hotel e deixá-lo na sua empreitada. Foi quando reagiu: - Se é amigo, quando mais preciso, não me deixe sozinho; eu também estou cansado. Ousei sugerir que também se procurassem outras coisas, já não aguentava mais ouvir pedaços de uma música mal cantarolada ou assobiada. Aqui e acolá, havia vendedor que tentava ajudar também cantarolando alguns “lá – lá –lá”. Então, a confusão aumentava, ao ponto de se pensar que se procurava mais de uma música. Escondido, liguei o telefone ao aplicativo “Sazan” que revela o nome da música executada. Mas, quando ele cantava ou assobiava, lia-se: “Não encontramos resultado” (...)
Era fim da tarde, as lojas fechavam, e eu, para me recuperar dos constrangimentos, sugeri ir ao shopping, onde as lojas só fechariam às 22 horas. Riu e balbuciou: “Tá certo”. Tentei ajudar, indagando se estávamos à procura de uma música clássica, popular, cantada ou apenas orquestrada. Entendeu a pergunta como uma ironia. Tomei a decisão de ficar calado, só saindo do silêncio quando ele, enfim desiludido e com fome, sentiu a hora de jantar. As pernas não aguentavam mais, então encontramos um confortável restaurante; e logo à entrada, pedimos ao garçom pressa, água e cardápio. O garçom retrucou: - Chego já. Depois de certo tempo, perguntou: - “O que vão beber?”. Ele, sem dar resposta, levantou-se bruscamente em direção ao pianista, e lá ficou, por longo tempo, pedindo que se tocasse “uma música” que ambos não sabiam...