Os dias para quem não os tem

Levantei cedo e as 8:00 já havia terminado de fazer tudo em casa.

Tudo limpo e organizado em seu devido lugar.

Precisava sair, eu tinha um serie de compromissos me aguardando lá fora.

Passei o dia fora, o dia passou e já estava bem tarde, eu olho no relógio e aquela era hora em que eu precisava andar apressadamente para chegar na hora certa naquele lugar.

Chego no local e me informam que haverá um pequeno grande atraso e que eu precisaria esperar um pequeno grande tempo.

Percebendo que seria um longo tempo de espera, olho em volta e procuro um local para poder aguardar...

Vejo nas proximidades uma pracinha, bem, aquela seria minha sala de espera.

Sento-me.

O dia estava frio e me pergunto porque estava usando uma blusa tão fina...

Para o tempo passar ou por mania mesmo começo a observar.

Haviam poucos casais, embora o Google tenha me mostrado rapidamente que aquele era "O dia dos namorados" (???).

Meio que perto de mim, sentada no banco da árvore florida vejo uma garota, com uma pasta com papéis, atenta ao celular como que se naquela tela aparecesse algo incrível.

As vezes no seu rosto abria um leve e tímido sorriso, as vezes os seus olhos brilhavam.

Ela via e escrevia.

"Esse cara deve ser o marido da Branca de neve" pensei mentalmente...

Sua atenção era tanta, que eu fiquei tão curiosa que desejei ser uma borboleta e posar na tela daquele smartphone e ler o que aquela garota estava lendo.

O tempo passa vagarosamente (como é de costume quando queremos que ele passe rápido).

Mas de repente como uma mensagem de erro da Web, o semblante daquela moça muda, se torna gélido e certamente triste...

Ela me olha, parece que naquele momento ela descobriu que ainda estava na Terra, e eu percebo que aqueles olhinhos Âmbar, sim aqueles olhos estavam lagrimejando...

Ela por um instante parece olhar para o amigo "nada", parece engolir algo, e olha eu tenho quase certeza que aquilo era um choro...

Levanta-se desconcertada, passa apressada perto do meu banquinho e deixa cair ao meu lado toda suas folhas de papel.

Eu me abaixo para lhe ajudar e percebo que eram currículos, ela estava com currículos como eu.

Ela também se abaixa e deixa cair sobre o seu nome escrito no papel uma estrondosa lagrima.

Envergonhada ela sai com a mão na boca e mesmo eu dizendo-lhe "Moça, aqui os seus currículos" ela não para e sai correndo.

Canalha, esse é o nome do cara que fez aquela moça chorar... (E esse é o nome de muitos caras...)

Naquele momento eu quis me transformar em fada madrinha e fazer daquela moça bonita uma cinderela, queria colocar ela no baile de um verdadeiro príncipe (Em contos de fadas...) e envergonhar o marido da Branca de Neve.

Eu tenho certeza que o estrondo daquela lagrima foi ouvido em muito mais que três dimensões. Eu ali parada, alguém que não conheço, alguém que a moça não conhece, sentiu ali dor naquela lágrima!

Essas datas comemorativas... Arrr!!!

Talvez se não existisse "O dia dos namorados" (???) Canalha não teria conversado com a moça e assim não a teria feito chorar.

Essa "comemorações" só servem para entristecer as pessoas.

"O dia dos namorados" para quem não tem namorado, o dia das mães para quem não tem mãe, o Natal para quem não tem dinheiro, não tem família ou o solitário que não ganha nem dá persente.

Quem é feliz não precisa disso, suas "datas especiais" são todos os dias, quem ama, ama todo dia e não precisa de data no calendário para se lembrar que tem que amar.

Quem respeita, respeita a todo momento.

Mas para quem é triste essas datas caem como se fosse tempestade de gelo no corpo nu...

O "não tenho isso" se torna um peso a cada esquina que encontra com aqueles que "têm" e estão "comemorando" (ao menos naquele dia...).

Aquela moça era legal, acredite eu sou boa em interpretação de texto e de pessoas!

Mas precisou de alguém naquele dia a fazer chorar...

Por um momento ali sentada, em profunda reflexão penso: "Aquela moça parece ter a minha idade, o cabelo dela é como meu, usava botas como eu... Ela poderia ser eu!".

O tempo passa e eu já não estou na praça. O dia já terminou, eu resolvi tudo e estou abrindo o portão de casa...

Abro a porta de casa... Hum que bom!

Estou exausta, mas tudo está limpinho, organizado e perfumado exatamente como eu deixei!

Exatamente como o interior de todas, todas as pessoas deviam está...

Eu não precisaria de mais nada...

Andrea A Gonçalves
Enviado por Andrea A Gonçalves em 12/06/2015
Reeditado em 12/06/2015
Código do texto: T5275235
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