NA ERA DO AMOR VIRTUAL
Que os que aqui me lerem não entendam essa minha crônica apenas como saudosismo crítico, a despeito de que , falar de amor nos tempos modernos, decerto que nos remonta à certa dose de viagem "antropológica e comparativa" de volta ao tempo.
Ao nosso tempo, ao menos.
Hoje, dia dos namorados aqui no Brasil, é uma das datas que mais movimenta o comércio já incrivelmente tão atípico quanto o amor de hoje em dia, algo objeto de consumo, e em era de crises econômicas o assunto "amor" bomba na mídia para incrementar os ânimos arrefecidos das compras que visam explicitamente o balanço financeiro positivo da afetividade algo transformada através dos tempos.
Não faz muito tempo, aliás, que uma cena dentro dum hotel me chamou a atenção sobre os relacionamentos modernos de amor da vanguarda de hoje, onde num "hall" social algumas pessoas ali se encontravam e dentre elas um jovem casal em lua de mel.
Lembro-me que ficamos ali por talvez uma hora, tempo "full time" em que os dois, conectados em "tablets" individuais não trocaram uma palavra sequer entre si, ao menos aquelas normais que são proferidas e processadas pelo nosso obsoleto aparelho "fonoaudiológico" herdado dos nossos ancestrais.
Que coisa impressionante aquilo...me senti na "idade da pedra" em plena modernidade dígito-virtual.
Nem uma palavra, nem um toque, nem um olhar, nem um beijo, nem uma gentileza, nada daquilo que nos contagia pelos atos do que antigamente se chamava afetividade, sensualidade e "sedução".
Claro que o tempo e as filas andam para tudo, os meus também andaram bastante, temos que nos reconstruir e nos modernizar na marra, sempre a cada dia, porque o mundo gira muito rapidamente, mas entender esse amor virtualizado na presente era digital...confesso, ainda tenho uma pouco de dificuldades cognitiva e cinestésica.
E hoje na mídia, vi lá uma reportagem em que "solteiros", ao toque dum certo desespero cruel e socialmente lhes outorgado, são amontoados num espaço pequeno com se fossem objetos duma vitrine, tudo para compartilhar um "cineminha" mas cuja verdadeira intenção é protagonizarem entre si as cenas dum amor descoberto a toque de caixa, algo imperativo dum beijo roubado no anonimato, fadado ao insípido da química desandada, antes que todas as lojas dos shoppings se fechem e contabilizem os seus inexoráveis prejuízos.
Bem, só não para para pensar quem não tem substrato de comparação sobre o que é o amor de verdade, algo sublime, espontâneo e involuntário...algo que desperta a sensualidade plena e aconchegante que turbina todas as trocas sexuais sagradas, as que nos agregam porque nunca nos esvaziam, enfim, tudo aquilo de antigamente e que, mesmo nos atuais "museus da obsolescência humana", ainda pulsa metafisicamente e nos pedir para não perder espaço dentre a banalidade vazia e descartável dos "fast -amores" de hoje em dia.
Hoje é tudo tão estereotipado que já ouvi dizer que até casamentos, os que antigamente selavam amores candidatos à perenidade pelo tempo, hoje acontecem apenas até que a festa acabe, depois que todos os "selfs" foram enviados e compartilhados com o mundo que não nos conhece, depois que os convidados fecham as portas do grande evento.
Amores que terminam ali, sem sequer terem começado, sob um clima do final da festa que só acontece para os outros verem.
Tristes tempos modernos...
Lembram daquele amor do "frio na barriga"?
Quem não sentiu aquelas minhocas geladinhas uma vez na vida, que paraliza o cérebro momentaneamente?
Nossa, que sensação propulsora...de vida divinamente abobada.
Sinceramente, a barriga é exatamente o termômetro do coração deveras apaixonado,homologado na legitimidade de trocar sentimentos autóctones, nunca comprados e não falsamente adquiridos na loja virtual dos tantos interesses dos modismos atuais; e digo que paixão, ela sim, tem o coração reinando na barriga, para depois se recolocar a pulsar no amor solidificado lá dentro, construído, de volta ao peito, "face to face" da magia dos encontros verdadeiros de vida.
Se tão tem frio na barriga...esqueçam, o "amor" estará condenado à frialdade do tempo, ainda que pareça amor ao mundo digital.
Mas não seria eu, obviamente, que me proporia a explicar o inexplicável...sobre o amor, porque não se explica o âmago dum sentimento inexplicavelmente tão complexo e tão transformador do mundo das vidas.
Enfim, vamos às comemorações do dia!
E como tudo de toda nossa vida, bom mesmo é se trocar energias amorosas customizadas ao jeito de ser de cada um.
Só não vale "falsificar" o amor, não caiam nessa armadilha da mídia! A de banalizar esse sentimento tão sublime, sem o qual, ainda que falássemos ou escrevessemos todas as línguas e letras dos anjos do céu decerto que, sem amor, nada seríamos nessa tão confusa dimensão da Terra. A citação é Bíblica.
Feliz dia do amor a todos, porque amor de verdade pertence ao tudo de sagrado que permeia todos os dias da nossa misteriosa existência.
Contudo, arrisco a palpitar: Amor é plenitude.
Apenas se sente, se transcende e se aprende...para todo o sempre.
O melhor presente? Só corações realmente presentes e conectados.
Feliz daquele que viveu e aprendeu a bela lição.