O BRASIL E O PORCO.

Se a criança é um porquinho, quando adulto não poderá ser outra coisa senão um porco.

Vladimir Maiakóvski

Hino ao crítico.

Da paixão de um cocheiro e de uma lavadeira

Tagarela, nasceu um rebento raquítico.

Filho não é bagulho, não se atira na lixeira.

A mãe chorou e o batizou: crítico.

O pai, recordando sua progenitura,

Vivia a contestar os maternais direitos.

Com tais boas maneiras e tal compostura

Defendia o menino do pendor à sarjeta.

Assim como o vigia cantava a cozinheira,

A mãe cantava, a lavar calça e calção.

Dela o garoto herdou o cheiro de sujeira

E a arte de penetrar fácil e sem sabão.

Quando cresceu, do tamanho de um bastão,

Sardas na cara como um prato de cogumelos,

Lançaram-no, com um leve golpe de joelho,

À rua, para tornar-se um cidadão.

Será preciso muito para ele sair da fralda?

Um pedaço de pano, calças e um embornal.

Com o nariz grácil como um vintém por lauda

Ele cheirou o céu afável do jornal.

E em certa propriedade um certo magnata

Ouviu uma batida suavíssima na aldrava,

E logo o crítico, da teta das palavras

Ordenhou as calças, o pão e uma gravata.

Já vestido e calçado, é fácil fazer pouco

Dos jogos rebuscados dos jovens que pesquisam,

E pensar: quanto a estes, ao menos, é preciso

Mordiscar-lhes de leve os tornozelos loucos.

Mas se se infiltra na rede jornalística

Algo sobre a grandeza de Puchkin ou Dante,

Parece que apodrece ante a nossa vista

Um enorme lacaio, balofo e bajulante.

Quando, por fim, no jubileu do centenário,

Acordares em meio ao fumo funerário,

Verás brilhar na cigarreira-souvenir o

Seu nome em caixa alta, mais alvo do que um lírio.

Escritores, há muitos. Juntem um milhar.

E ergamos em Nice um asilo para os críticos.

Vocês pensam que é mole viver a enxaguar

A nossa roupa branca nos artigos?

Vladimir Maiakóvski

Maiakóvisk
Enviado por Celso Panza em 10/06/2015
Reeditado em 10/06/2015
Código do texto: T5272360
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