AMOR À PRIMEIRA VISTA
AMOR À PRIMEIRA VISTA
Flávia Arruda
Desde o nosso primeiro encontro que algo diferente vem me dominando. Uma força surreal me impede de tomar decisões que seriam normais em meu cotidiano. Com ele não consigo ser quem realmente sou, ou pelo menos quem eu pensei ser, e isso até esse encontro desconcertante. É como num embaralhar de cartas, misturando todos os naipes, sequências e lógicas, assim me sinto quando penetro nos seus pensamentos.
Que coisa louca... Pergunto-me: Como se traduz e escreve o que ainda estaria por vir? Como descrever com perfeição o que haveria de acontecer? Como ousaste recitar meus sentimentos num tempo antes que eu pudesse senti-los? Seriam tais sentimentos iguais, vulgares e corriqueiros entre todas as criaturas cor de rosa? Seríamos, nós, seres tão evidentes e previsíveis?
Estaríamos aqui como meros fantoches deles, dos seres que tem o dom de provocar tamanhos desatinos? Ah, tormentas deliciosas de sentir. Não há como deixar que as coisas simplesmente aconteçam, e como num passe de mágica ver desaparecer o rei, a rainha e todo o reinado de encantos... Não, isso eu nunca vou permitir. É contra isso que tenho lutado, questionado e agido feito uma louca...
É assim que me sinto quando estou de frente para ele, um ser incompreendido e de difícil compreensão. Sinto-me meio tonta, uma completa tola. Aquilo tudo que ele, pretencioso e sonhador, me diz é tão somente o que eu sinto, e é aí que nasce todo o conflito entre nós. Sentimos algo muito semelhante, porém nossos entendimentos acerca do significado destes sentimentos seguem rotas diferentes. São estradas que se cruzam em alguns pontos e se distanciam nas encruzilhadas das decisões. Cada um de nós reside em um mundo de sentimentos iguais e distintos. São reinados distantes, apesar de vizinhos.
Ele traz dentro de si algo mágico, hipnotizando-nos desde o primeiro olhar, ainda que superficialmente, com suas cores quentes e envolventes. Ele não se permite profanar, macular. Suas folhas são macias e brilhosas. Suas ilustrações são sensuais e excitantes. Ele traduz, com maestria, o encontro de duas almas, a união de dois seres, que buscam tão somente sentir o entregar-se, sem reservas. Dois seres atemporais e apaixonantes. Dois corpos fundidos num só desejo: amar.
Ele é um lindo livro, cheio de mistérios e revelações. É um livro doído e feliz. Romântico e real.
Fiz dele meu companheiro, amigo e conselheiro. Preciso admitir que, como os bons amigos, já tivemos tempos difíceis, já discutimos, nos desentendemos... Cheguei a senti ódio dele, chorei copiosamente sobre suas páginas, reneguei-o, rompi e jurei nunca mais vê-lo... A cada verso lido sentia o elevar angustiante do meu desespero, sofri, desfiz-me. Um pouco de mim morria ao iniciar uma nova leitura... Ciúme, raiva, dor, medo e tristeza confundiam-se com o prazer de lê-lo, projetando-me para as belas cenas de amor e paixão. Uma obra clássica, uma companhia para uma vida inteira. Uma obra que permite muitos encontros, novos romances e muitas descobertas a cada releitura.
Refiz-me, amadureci, compreendi e tomada de saudade, senti sua falta, busquei-te para mim... Dei-me conta de quão presunçosa eu fui ao invejar-te, odiar-te, desejar-te e amar-te... Cravo-me em fúria, não contenho as lágrimas. Dei-me conta de que nada sei, pouco aprendi da vida e que o amor... Ah, esse eu encontrei folheando os desejos e quereres aflorados pelo refinar da paixão, de duas almas que se complementam.
Entre sentir e entender... Melhor sentir sem entender “DIÁLOGOS EM RETALHOS DE CETIM”, do escritor Raimundo Antônio de Souza Lopes.
Flávia Arruda 07.06.2015