O ato de pegar um ônibus costuma gerar ótimos enredos.
 
Nesse episódio eu dividi o assento com uma moça segurando uma bolsa enorme. As mulheres curtem bolsas grandes, mas essa era gigantesca.
Na bolsa cabia o mar, ao lado de Ilmar.
 
Logo a moça pegou uma revista, começou a folhear, buliu o ombro cá, mexeu o braço lá, jamais cessou os movimentos durante a leitura.
Depois ela encontrou um saco de bombons (Oba!).
Frustrando minha alegria, ela me deixou chupando o dedo.
Os movimentos continuaram incessantes. Mãos agitadas, bole lá, mexe cá, braços compridos, espírito inquieto, a moça não sossegava.
 
De repente ela voltou a abrir a bolsa, imaginei que talvez ela fosse tirar uma melancia, contudo o incrível desfecho preocupou.
Ela puxou uma faca.
Fiquei aflito demais. Seria a saudável moça uma psicopata almejando fazer mais uma vítima? Ufa! Quando ela separou algumas laranjas e começou a descascá-las, o alívio renasceu.
 
A situação parecia prometer fortes emoções.
O que ainda carregaria aquela bolsa mágica?
 
A revista, os bombons, as laranjas, uma melancia ou um abacaxi... 
Tudo era possível habitar a bolsa. E agora? O que viria? 
Ela apenas encostou a cabeça na janela e iniciou uma soneca.
Que moça folgada, cara! Temi a criativa mulher cair em cima de mim, porém ela serena avançou beijando a janela do buzu.
 
* Meu ponto surgiu, a empolgante viagem terminou.
Abandonei a moça roncando alto, segui meu rumo, mas não perdoei a gulosa egoísta que não me ofertou nem sequer um bombonzinho.
 
Depois das mil surpresas e aventuras, eu merecia.

Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 09/06/2015
Reeditado em 09/06/2015
Código do texto: T5270906
Classificação de conteúdo: seguro