Um encontro como o primeiro encontro.
naquele momento que antecede o beijo, nossas mãos começam a suar: é o toque querendo ser tocado; nossas pupilas dilatam: são os olhos desejando olhar além dos mesmos; nosso coração acelera: ele quer entrar no mesmo compasso do outro...
Era pra ser mais uma tarde chata e sem fim de segunda feira, o tempo estava normal, nem muito quente, nem muito frio. As pessoas falavam com outras pelos seus celulares, os carros buzinavam fumaça e eu ia de encontro para a paulista das paulistas, ou, neste caso, do paulista. A rua cansava o fôlego, mas acabamos marcando o meio do caminho, para que nem um, nem outro esperasse demais por aquele abraço que tanto desejava se consumir.
Lá na frente eu pude vê-lo, meus olhos procuraram todos os outros lugares para olhar, queria se perder em meio a uma timidez quase desconhecida minha, mas em três segundos um ficou de frente pro outro. Vontade de beijá-lo ali, de agarrá-lo e de sair voando para alguma nuvem próxima...mas neste dia, não havia nenhuma nuvem, tivemos de construir a nossa própria alguns minutos depois, talvez uma hora e alguns minutos depois na verdade.
Em nossa primeira nuvem, havia algumas estrelas por perto, mas daquelas sem graça, que inibem o olhar, ainda assim conseguimos nosso primeiro momento. "deixe eu olhar sua mão... não, a que você escreve", mal sabia ele que era um simples pretexto para poder tocá-lo sem parecer muito invasivo. Dentro de mim, um terremoto como se fosse o primeiro encontro romântico de nossas vidas estivesse acontecendo. Meu auto controle ficou pedido nos cincos anos que estudei sobre o comportamento humano. Não havia regra nem pensamento freudiano que pudesse me fazer ficar "relax".
Ah sim. O beijo. Ele aconteceu. Leve, toques de seda entre um lábio e outro. Os músculos das costas enrijecidos. As linguas se conhecendo. A mão querendo pegar, mas continha-se, comportada.
A tarde foi indo, devagar por momentos de leveza e rápida com a chegada do véu da noite.
A vista da segunda nuvem estava um tanto prejudicada por edifícios sem fim, que possuíam tantas vidas, mas era um simples concreto com tijolos bem alinhados..sem vida. A vida estava lá nos meus e nos olhos dele. E aqueles verdes, repousaram nos marrons.
A poesia não dita, na verdade teria sido a maior de todas, pois cada segundo era um novo verso. Ela emudeceu. Mas estará sempre em nossas memórias. E cada dia que deitarmos, sentiremos aquele primeiro toque tímido de mãos ansiosas por se tocarem.