A despedida de Silvio Santos
Silvio Santos dispensa apresentações. Existem os que gostam e os que não gostam. Mas poucos nunca ouviram falar nele. Ele fez, e continua a fazer, companhia a milhões de pessoas que o convidam a entrar em seus lares a décadas.
Agora, depois de tanto tempo, está no ar um cheiro de despedida.
Mesmo que não saibamos quando ele irá partir sentimos, através de suas atitudes e poucas entrevistas concedidas, que ele já está à espera do seu último programa de vida.
Sabemos disso. Sabemos que nem ele, nem ninguém, durará para sempre. A vantagem, se é que se pode chamar assim, talvez seja a de ter uma chance. O caminho de Silvio, acompanhado por milhões de olhares, nos oferece uma oportunidade para olharmos para nossas próprias despedidas. Aquelas que, apesar de doídas, vem muitas vezes com aviso prévio. O que faremos com este tempo que é como um “vale presente”? Este tempo que antecede algo em câmera lenta?
Fácil não é. Mas segundo o capitão Nascimento, do filme Tropa de Elite, quem disse que a vida é fácil?
Não é preciso gostar do Silvio para dar uma olhada em como lidamos com nossas despedidas. Ele é apenas, nesse momento, um mensageiro.
A oportunidade não é tarefa simples. Olhar de frente para o que ainda não perdemos, mas sabemos que vamos. Há quem tenha como dinâmica pensar nisso só quando acontece, pois sempre há esperança e, na verdade, milagres acontecem. Mas há, também, a certeza de algumas perdas. Acredito que o desafio seja buscar, na medida do possível, o equilíbrio. Olhar com gratidão para tudo o que foi vivido, do jeito que foi e, assim, fazer o melhor para si e para quem está de partida. Sem fugir e sem ficar parado neste olhar.
É quando respeitamos o tempo daquilo que é, e daquilo que está por vir, que as despedidas podem tornar-se leves. E com respeito, a verdadeira despedida acontece. Se queremos agradecer ou nos despedir, teremos tempo. Se temos mágoas, teremos tempo para deixar que partam junto com o adeus. E se não há nada a dizer, é o momento certo para descobrirmos isso. E não depois que o viajante partir. Pois é, mais ou menos assim, que funcionamos. Permitimos que muitos sentimentos apareçam quando não há mais nada a fazer com quem partiu, acarretando muitas vezes sentimentos que podem doer tempo demais.
Silvio é amado por muitos, mas não estou vendo nenhum reconhecimento em vida. Provavelmente muitos agradecimentos serão trazidos à luz quando ele não puder mais se alegrar com isso.
O que fica, geralmente, é o peso do que não foi dito ou demonstrado. Se bobearmos, carregaremos este peso por muitos anos. E a gente sabe que, quanto mais caminhamos, mais o mesmo peso parece tornar-se mais pesado.
Também podemos ampliar nosso olhar. Elevar o que descobrimos em nós mesmos a um contexto maior. Num olhar macro, suspeito que estejamos fazendo o mesmo com nosso Brasil. Estamos cientes dos sinais de perdas importantes que estamos sofrendo em todas as áreas, independente do partido político que esteja no poder. Mas, talvez, estejamos naquela parte do caminho que, ás vezes, se mostra como um vazio.
Uma anestesia emocional. Talvez saibamos, mas não queiramos acreditar.
Abraço
Fernanda Nunes Gonçalves