Por Elisa

No dia em que ela se foi, em minha dor, por mil vezes perguntei a Deus o porquê de tê-la levado tão cedo, na inocência de seus dez aninhos. Porque ELE não permitiu que ela continuasse distribuindo alegria e felicidade para todos que a conheceram, que continuasse sendo a lobinha empenhada e consciente da necessidade de ser “o melhor possível”, que participasse como atleta das ginastradas, que crescesse e se tornasse mocinha, que conhecesse o amor de seu “admirador secreto”, que fosse a veterinária que cuidaria de todos os animais do mundo, que fosse a arquiteta que construiria casas bonitas para todos, que fosse linda e “artista” como sua mãe. ELE não me respondeu e me desesperei...

Na noite de sua vigília, por mil vezes olhei os céus perguntando a ela em que estrela se transformara, já que os anjos sempre se tornam estrelas. A meus olhos, certamente naquela que brilhava tanto naquele momento, bem mais que as outras. Talvez para caçoar de mim, aquela estrela diminuiu seu brilho e outra, em outra posição no céu, passou a brilhar mais intensamente, e outra, e outra e outra, em um movimento de balé. Ela também não me respondeu e me angustiei...
Na tarde de nossa despedida, perguntei aos céus como conseguiria continuar vivendo sem ela, sem o seu beijo de bom-dia, sem o calor de seu abraço, sem a alegria de seu sorriso, sem o seu beijo e a oração na hora de dormir. Novamente não tive respostas e chorei, chorei, chorei ...
Em seu quarto, cercado de seus bichinhos de estimação, de todas as suas fotos, li a redação que ela fez sobre o seu super-herói, que poderia ser um super-herói comum, que poderia ser um marinheiro de primeira viagem, mas que também poderia ser um super-pai, alternativa que ela escolheu para me titular, certamente com a visão desses olhinhos puros que eu tanto beijei e que carinhosamente me viam assim.
Curiosamente, esta redação está datada: 10 de agosto de 1997, próximo Dia dos Pais, dia este em que ela não mais estará fisicamente conosco, em que não poderei lhe dar o meu “beijo babado” que ela, brincando, “limparia”. E ela termina com os seus “te amo, te amo, te amo, te amo...” e marcas de beijinhos com sua última mensagem escrita: Esses beijinhos irão te guiar.

E, afinal, entre lágrimas, não mais de dor, mas de profunda paz, compreendi:

ELE a escolheu e a levou para junto d’ELE porque ela já cumprira o melhor possível sua missão nesta vida: a de distribuir amor, amizade, carinho e, sobretudo, de nos ensinar que devemos viver cada segundo de nossas existências com felicidade, agradecendo por tudo o que somos, que temos, que fazemos, compartilhando com todos essa dádiva que é a própria vida, que é o amor.

- Ela não é, em particular, nenhuma daquelas estrelas, mas sim todas, a cada instante e a todo momento; mas ela é, principalmente, o sol, que vem mansamente dando formas aos contornos e sombras das montanhas e das árvores, mostrando-nos toda a beleza das cores, das flores, da vida e, ao final de seu ciclo, descansa serenamente no horizonte, levando sua beleza e calor para aquecer outros que também o necessitam e aguardam, porém sempre lembrando-nos que retornará, como sempre o fez e fará, no dia seguinte, em um novo amanhecer...

- E ela é a brisa terna e suave que carinhosamente me beija a face, que seca esta lágrima de saudade que insiste em molhar meus olhos, que desalinha meus poucos cabelos; ela é a brisa morna que me envolve e me aquece num abraço amigo, que me faz cócegas e novamente me faz sorrir...

E, à noite, antes de dormir, novamente posso rezar com ela a sua oração, fechando seus olhinhos cansados de distribuir alegrias e felicidade: Papai do Céu, fazei de mim uma menina boa e obediente; olhai toda a minha família e meus amigos. Amém.

Descansa em paz, minha filhinha querida, pois seus beijinhos estão nos guiando e Deus, hoje, está ouvindo suas orações bem mais de perto, mantendo-a uma menina boa e obediente e olhando toda a sua família e amigos. Para sempre, também te amo, te amo, te amo, te amo
...
LHMignone
Enviado por LHMignone em 22/09/2005
Reeditado em 05/10/2013
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