PECADO AMBULANTE
Era naquele tempo que estourou nas paradas de sucesso a música "Garota de Ipanema", que dizia "Vejam que coisa mais linda, mais cheia de gralça, é ele que passa...".
Só que na nossa cidadezinha não tinha mar, só uma pracinha acanhada por onde passava uma morena muito mais bonita, tenho certeza, que a tal Garota de Ipanema. Juro. Era a alegria, o sonho, o devaneio de todo rapazote, até dos coroas daqueles anos dourados na nossa cidadezinha. Era um norenaço, linda, exuberante, simpaticíssima, risonha e, pasmem, com uma ingenuidade fascinante, o que era desmentido por seus olhos de cigana dissimulada como a Capitu de Machado. Elça passava tranquila, aliás, passava não, desfilava, gingando, parecia que tinha molas nas ancas, fazia uns bamboleios arretados mas sem ter consciência do que aquilo nos provocava. Juro que era superior a Gina Lolobrigida e Sophia Loren do cinema. E haja prazeres solitários inciotados pela morena. Ela só nos satifazia na imaginação.
Mas um dia deixou de desfilar na calçada da pracinha. Um doutor de uma cidade vizinha apaixonou-se por ela e foi correspondido. Acabou o desfile, ficou só a saudade.
Hoje deve ser uma respeitável vovó, mas todos nós quando ouvimos aquela música de Adelino Moreira, cantada por Nelson Gonçalves, ficamos ligados, ela começa assim: "Quando ela passa, florindo a calçada...". Que saudade do nosso Pecado Ambulante, com todo respeito.