Laboratório de Lembranças e Esquecimentos: memória.
Lembrar e esquecer são necessidades que a humanidade desenvolveu para sobreviver, se adaptar e evoluir. Por isto é tão importante quanto qualquer atividade primária como alimentar, descansar e trabalhar.
Por ser um trabalho de recordar e descartar o desnecessário, redundante dizer, é um labor. A memória é (e/ labor /ada) produzida de acordo com os vestígios deixados no individuo ou no grupo social conforme sua escala de valores éticos, princípios sociais e impressões em sua psique.
Por necessidade do ser humano sobreviver e socializar-se a memória é um campo de experimento pessoal e social. A memória é um laboratório (labor / atório).
Neste laboratório as experiências são guardadas e reutilizadas como componentes de identidade: quem sou, que espaço ocupo, como me posiciono, como me relaciono, em que acredito.
Somos feitos de saudades e nostalgias, que são as lembranças que queremos, e os esquecimentos, aquilo que rejeitamos.
Guardamos no pote da lembrança os momentos felizes para repeti-los ou recordá-los. Guardamos ali também os instantes doídos, infelizes para justamente evitá-los. Deste modo construímos os nossos discursos que nos justificam como heróis, mártires ou vítimas.
Somos e devemos ser os protagonistas de nossas narrativas – o sujeito.
Temos histórias pessoais e vivemos processos sociais em coletividade.
A memória individual e a coletiva são refletidas através da oralidade expressa em nossos diálogos que permeiam os assuntos que conversamos em família, na roda de amigos, nas confidências feitas. Os segredos, o inconfessável morre com a gente e esquecemos (ou não) ao longo dos anos.
Aquilo que contamos e ouvimos são as narrativas.
As narrativas escritas formam a história documentada. Há povos, como tribos primitivas, que possuem somente narrativas orais bem como pessoas que não sabem ler e escrever – nem por isto deixam de ter e viver experiências de vida.
Surge no pós-moderno a atividade interdisciplinar do historiador em documentar, registrar as histórias de vida como forma de sociabilizar experiências até então contadas oralmente.
Por que o “laboratório” da memória individual interessa para o aprimoramento da humanidade?
Porque “a história de cada um de nós contém a história de um tempo, dos grupos a que pertencemos e das pessoas com quem relacionamos.” E “articuladas, as narrativas produzidas por diferentes indivíduos, grupos e instituições tecem uma nova memória social, plural e democrática.”*²
Revolta*
Todos foram saindo, de mansinho,
tão calados,
que eu nem sei
se fiquei mesmo só.
Não trouxe mensagem
e não me deram senha...
disseram-se que não iria perder nada,
porque não há mais céu.
E agora, que tenho medo,
e estou cansado,
mandam-me embora...
Mas não quero ir para mais longe,
desterrado,
porque a minha pátria é a memória.
Não, não quero ser desterrado,
que a minha pátria é a memória...
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 30/05/2015.
*ROSA, João Guimarães. Revolta. In: Magma, p.136.
Ed. Nova Fronteira, 1997, R.J.
*²HENRIQUES, Rosali.Metodologia de História Oral: a experiência do Museu da Pessoa. Apostila, p. 5 e 6.
ESCREVA PARA O AUTOR:
conversandocomoautor@gmail.com
“que a minha pátria é a memória...”*
Lembrar e esquecer são necessidades que a humanidade desenvolveu para sobreviver, se adaptar e evoluir. Por isto é tão importante quanto qualquer atividade primária como alimentar, descansar e trabalhar.
Por ser um trabalho de recordar e descartar o desnecessário, redundante dizer, é um labor. A memória é (e/ labor /ada) produzida de acordo com os vestígios deixados no individuo ou no grupo social conforme sua escala de valores éticos, princípios sociais e impressões em sua psique.
Por necessidade do ser humano sobreviver e socializar-se a memória é um campo de experimento pessoal e social. A memória é um laboratório (labor / atório).
Neste laboratório as experiências são guardadas e reutilizadas como componentes de identidade: quem sou, que espaço ocupo, como me posiciono, como me relaciono, em que acredito.
Somos feitos de saudades e nostalgias, que são as lembranças que queremos, e os esquecimentos, aquilo que rejeitamos.
Guardamos no pote da lembrança os momentos felizes para repeti-los ou recordá-los. Guardamos ali também os instantes doídos, infelizes para justamente evitá-los. Deste modo construímos os nossos discursos que nos justificam como heróis, mártires ou vítimas.
Somos e devemos ser os protagonistas de nossas narrativas – o sujeito.
Temos histórias pessoais e vivemos processos sociais em coletividade.
A memória individual e a coletiva são refletidas através da oralidade expressa em nossos diálogos que permeiam os assuntos que conversamos em família, na roda de amigos, nas confidências feitas. Os segredos, o inconfessável morre com a gente e esquecemos (ou não) ao longo dos anos.
Aquilo que contamos e ouvimos são as narrativas.
As narrativas escritas formam a história documentada. Há povos, como tribos primitivas, que possuem somente narrativas orais bem como pessoas que não sabem ler e escrever – nem por isto deixam de ter e viver experiências de vida.
Surge no pós-moderno a atividade interdisciplinar do historiador em documentar, registrar as histórias de vida como forma de sociabilizar experiências até então contadas oralmente.
Por que o “laboratório” da memória individual interessa para o aprimoramento da humanidade?
Porque “a história de cada um de nós contém a história de um tempo, dos grupos a que pertencemos e das pessoas com quem relacionamos.” E “articuladas, as narrativas produzidas por diferentes indivíduos, grupos e instituições tecem uma nova memória social, plural e democrática.”*²
Revolta*
Todos foram saindo, de mansinho,
tão calados,
que eu nem sei
se fiquei mesmo só.
Não trouxe mensagem
e não me deram senha...
disseram-se que não iria perder nada,
porque não há mais céu.
E agora, que tenho medo,
e estou cansado,
mandam-me embora...
Mas não quero ir para mais longe,
desterrado,
porque a minha pátria é a memória.
Não, não quero ser desterrado,
que a minha pátria é a memória...
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 30/05/2015.
*ROSA, João Guimarães. Revolta. In: Magma, p.136.
Ed. Nova Fronteira, 1997, R.J.
*²HENRIQUES, Rosali.Metodologia de História Oral: a experiência do Museu da Pessoa. Apostila, p. 5 e 6.
ESCREVA PARA O AUTOR:
conversandocomoautor@gmail.com