ROLETA RUSSA
Embora de acordo com a Wikipédia Roleta russa seja um jogo de azar onde os participantes colocam uma bala em uma das câmaras de um revólver no qual o tambor será girado e fechado, de modo que a localização da bala seja desconhecida ,é também um jogo no qual os participantes apontam a arma para suas cabeças e atiram, correndo o risco da provável morte caso a bala esteja na câmara engatilhada escolhi esse titulo pois o que aconteceu com Maria foi uma verdadeira roleta russa, na qual ela tinha a certeza de que alguém não sairia vivo, e esse alguém seria seu pai.
Quando Maria e seu irmão internaram seu pai naquele frio domingo do mês de Maio eles sabiam que dificilmente o pai deles sairia com vida daquele lugar. No momento em que eles pararam o carro na porta de entrada do hospital imediatamente veio um enfermeiro com uma cadeira de rodas ao ver o estado debilitado da pessoa que precisava de cuidados médicos, no caso o pai de Maria e Tino.
Depois de assinar os papéis de internação Maria combinou com seu irmão como fariam para cuidar do pai deles de maneira que ele não ficasse sem a presença de um dos dois: Tino cuidaria do pai durante a noite e Maria cuidaria durante o dia, porém na primeira noite quem ficou com o pai deles foi Maria, pois ela queria falar com o médico de plantão, saber o real estado de saúde de seu pai.
Após a internação, foram feito vários exames. Pouco depois das 20 horas receberam a visita do médico. Que foi logo falando:
-O estado do “Seu” Antônio é grave. Como deixaram ficar desse jeito?
-Doutor, ele teve alta sexta feira e hoje é domingo, ele só ficou dois dias em casa e hoje está de volta. Deram alta para ele na sexta feira sendo que ele estava pior do que quando foi internado. Parece que deram alta para ele morrer em casa, só que ele não morreu. Acho que foi isso, não foi culpa nossa não. Nós compramos e demos os medicamentos que estava na receita que foi com ele.
-Seu pai está com um quadro grave de pneumonia, mas o coração dele está fraco, quando cuida de uma coisa agrava outra. A senhora sabe disso não é?
-Nós vimos que ele piorou, mas a gente não sabia o que ele tem não!
O médico saiu do quarto. Maria olhou em direção a seu pai que parecia dormir calmamente.
Durante a noite Maria conversou com seu pai, porém ele já não conseguia mais responder, pois haviam colocado um tubo de alimentação na boca dele. Logo pela manhã, Tino chegou para ficar com eles. Os dias foram passando e eles foram vendo o pai definhar dia após dias.
Sabiam que estavam em uma triste roleta russa: em algum momento durante o dia ou durante a noite o pai deles iria deixar de respirar e nenhum dos dois queria que fosse no momento em que eles estivessem ali ao lado dele.
Maria se despedia, pedia a benção do pai, dizia até amanhã, mas sabia que talvez não houvesse amanhã.
Até que na quinta feira logo após a meia noite o telefone tocou e Maria “sabia” que era seu irmão para falar sobre o pai deles:
-Nosso “velhão” de olhos azuis acabou de dar o ultimo suspiro mana. Baixei os olhos para ver a hora no celular e quando olhei no rosto dele outra vez ele não estava mais respirando.
Maria gritou! Chorou alto. Sentiu mais do que nunca que estava impiedosamente só sem mãe e agora sem pai....