SOBRE TRADIÇÕES - FILOSOFIANDO IDEIAS
É importante considerar que as manifestações populares da cultura tradicional de um determinado segmento social são além de apresentações cênicas, montadas à revelia; expressões sócio culturais que refletem o “modus vivendi” de todo coletivo voltado à determinados valores construídos durante seu período de existência. Engendram-se nesse contexto a concepção de ser algo “além” de simples representações artísticas sem fundamentação ou isoladas de uma sua transmissão de uma geração para outra, pois abarca sim uma complexa rede de saberes, viveres e fazeres que convivem concomitantemente com nossa contemporaneidade já bastante globalizada.
Surge do imaginário coletivo ou individual e gerando formatos reais que sobrevivem na sociedade, influenciando toda população que muitas vezes nem se percebe participante e atuante da tradição, pois o "fazedor" (como teimo chamar aqueles que fazer, mantém e sobrevivem da cultura tradicionalmente folclórica) muitas vezes aplicam conceitos tidos tradicionais em seu dia a dia, pois é de seu uso e costume, e não permeia pela racionalidade intelectiva.
Além de meras apresentações de consumo, a tradição também acima de tudo são ações cotidianas inseridas informalmente nos miríades de práticas do coletivo humano, entre outras, arquitetura, artesanato, costumes, mitos, comportamento, crenças, culinária, vestuário, conceitos, medicina, objetos, religiões, eventos, literatura, brincadeira; e dessa forma, abrange a tradição local e ou geral considerando tais peculiaridades intrínseca na sua representação e forma de existir.
QUESTÃO INTERESSANTE:
O respeito ao Mestre é uma das prioridades do grupo de tradição, esse mestre o é pelo simples fato da qualidade de seus saberes, fazeres e dizeres adquiridos na temporariedade em que apreendeu sua arte e a transmite aos seus. São décadas de existência prática adquirida e compromissada com sua tradição e por isso é considerado pelos seus pares, Mestre. Esse respeito há de ser ressaltado e considerado pelos novos e principalmente pelos não praticante dessa manifestação.
O mestre jamais se auto intitula, ele é fruto da eleição afetiva e efetiva do grupo a qual pertence.Como reconhecer esse ser de tradição? É ele quem menos se evidencia egóicamente, ele apenas o é, silenciosa e mansamente. Uma das características do real fazedor é ser parte do todo, e ser a voz do todo, desse coletivo que sabe e respeita o que é um mestre.
OUTRA QUESTÃO:
Tradição não é representação artística, mas vivência ancestral sendo trazida e continuada pelos novos fazedores, evoluindo e adaptando-se no período de sua existência física ou não de forma natural. Afora os modismos reinante e que fatores diversos provocam, é importante sempre elevar a tradição enquanto forma de expressão que inicia na latência, no âmago do fazedor e da sociedade que participa, essa força se expande de tal forma que é exteriorizada ao exterior social. Note bem: essa postura tradicional não se traveste num o fazedor da tradição, muito menos se estabelece encenações, há algo de continuidade e perenidade nessa questão. Há de se considerar a necessidade de salvaguardar nossas mais ricas expressões de forma que não se adultere seu conteúdo essencial, sabendo e valorizando todo o processo evolutivo que existe no seu trânsito histórico e existencial. Um limite crucial a ser considerado é saber que entremeio à esta questão existem: grupos folclóricos tradicionais, pára folclórico, não tradicionais, e de representação, nem tradicional e nem folclórico, mas que resgata, quando bem estruturado muito da tradição local.
Segundo nosso amado e finado Abel Bueno, violeiro piracicabano que como tantos que já se foram e que deixaram um hiato em nossos corações e tradição reinante: "um caipira não se faz, ele é..." . Toda essa sabedoria em poucas palavras ditas por um matuto, deve ser considerada para toda modalidade e tipologia das manifestações de tradição folclórica existentes em Piracicaba: Não se "monta" a arte do fazedor tradicional, mas ela é uma construção cotidiana e diuturna e essencial ao ser comprometido com sua existência, transmissão, difusão, salvaguarda e continuidade.