HUMANOS OU NÃO HUMANOS
Era uma vez uma cidade que se formou entre duas grandes florestas brasileiras. Aos poucos as duas foram dando lugar aos empreendimentos do grande capital mundial através das monoculturas e grandes empresas. Sua exuberância vegetativa foi dando lugar aos prédios, casas, vias, rodovias, conjuntos habitacionais e condomínios fechados. Hoje dessas duas grandes florestas restam pequenos fragmentos que possuem tanto uma beleza cênica como um grande valor econômico. Mas, mesmo assim esses pequenos oásis dessa cidade estão correndo sérios riscos de desaparecer. Também, não devemos esquecer que no decorrer da sua história essa cidade construiu através dos seus cidadãos belos patrimônios arquitetônicos, mas que nem mesmos esses estão a salvo da sua demolição, pois estão em áreas centrais de grande valor econômico cobiçado pelos grandes empresários do setor imobiliário dessa cidade. Mas, voltemos aos patrimônios naturais. Justifica-se, porém que o valor da natureza está no que ela apresenta de condições originais, ou seja, espécies que já estavam lá antes de qualquer construção humana. Isso inclusive se encontra nas leis ambientais provocando uma discussão interminável. Só para efeito de comparação todos aqueles cidadãos que não nasceram nessa cidade devem se retirar, haja vista não serem nativos, ao contrário, são exóticos, portanto devem voltar para seus lugares de origem. Então ingleses, espanhóis, portugueses, alemães, entre outros cidadãos de nacionalidades diversas são intrusos nessa cidade e simplesmente não podem viver ali, dando lugar aos descendentes indígenas, negros e nordestinos que ajudaram a construí-la. As árvores nativas não reclamam das exóticas, isso quem criou foi o homem. Elas disputam como nós disputamos nossa sobrevivência. O que disputam? Luz solar, nutrientes do solo e tudo mais. E nós o que disputamos? Trabalho, espaços, poder, justiça, etc. Isso pode ter um fim, um entendimento mediado pelos representantes do povo. São eles quem tomam as decisões sobre o que deve ser feito, por exemplo: quando grupos de seres vivos tanto de humanos quanto de outras espécies estão correndo risco de desaparecer. Reúnem-se em seções fechadas debatem, trocam ideias acusações e chegam ao resultado. O que prevalece para continuar vivendo no caso de espécies não humanas, por exemplo, são suas condições originais. Mesmo as espécies que ali foram se instalando hora sendo cultivadas por humanos, ora trazidas por animais, infelizmente não podem ficar. Os representantes do povo decretam que as mesmas devem ser retiradas, cortadas e aniquiladas para o bem da cidade. São monstros da natureza e podem assustar as árvores nativas. Outra prevalência o solo urbano. A cidade para se planejar estudou os espaços de acordo com as suas funções e determinou possuir áreas verdes, industriais, comerciais, mistas entre outras. Em muitos casos até isenta proprietários de taxas administrativas para manter aquilo como patrimônio natural, mesmo assim, isso não é o suficiente comparado ao valor econômico daquela área. Agora se pode compreender melhor o porquê de tantas mortes de humanos nessa mesma cidade. Estão morrendo pessoas consideradas exóticas, diferentes, de poder aquisitivo baixo e que não tem condições de ter planos de saúde como os representantes do povo. Não possuem um valor econômico e devem ser bem tratadas apenas em ano eleitoral. Outra vez o inseguro mundo dos humanos está ai. Democraticamente observo os cidadãos dessa mesma cidade. Deixam de lado o exercício da cidadania para assistir TV. Se comovem, mas não lutam. Trabalham desesperadamente para consumir, e acreditam que sua parte já está sendo feita com a separação dos resíduos. Não que não seja importante, mas é apenas uma das inúmeras lutas da cidadania. Quanto mais se discute o que deve ser reciclável mais fugimos dos problemas reais entre os quais: colocar os representantes do povo para trabalhar. Se algum desses representantes dessa mesma cidade ler esse texto saberão o que estão realmente fazendo pela cidade. Estão acomodados não tem pressão sobre eles quando alguma coisa tenta ameaça-los recorrem ao poder econômico. São parceiros, uma mão lava a outra, você me socorre agora que depois te socorro na reeleição. Enquanto isso os poderosos que se dizem nativos sem serem riem da fragilidade política da cidade tendo apenas um medo consciente o levante da população exótica ou não contra as injustiças que a assolam.