ENQUANTO SE ESPERA FILOSOFEMOS

Enquanto se espera que os nossos corações sejam tocados pelo espetáculo da miséria humana, pela brutalidade do egoísmo, pelo sofrimento real irremissível dos nosso iguais filosofemos. Filosofemos em cima do que disse um judeu que pensava diferente, que não viveu Auschwitz, mas sofreu um processo de excomunhão em 27 de julho de 1656, com todas as sombrias formalidades do ritual hebreu, tendo à frente os chefes do Conselho Eclesiástico, que amaldiçoaram, execraram e desligaram do povo de Israel aquele que é considerado “ o maior judeu e filósofo dos tempos modernos”. Refiro-me a Baruch de Espinosa.

Sobre DEUS, este é o pensamento de Espinosa: Quando dizeis que se não concedo a Deus as ações de ver, ouvir, observar, desejar e outras que tais... não sabeis que tipo de Deus é o meu. Conseqüentemente imagino que acreditais não existir perfeição maior do que a que pode ser explicada pelos atributos acima citados. Isso não me admira, pois acredito que um triângulo, se pudesse falar diria, de maneira semelhante, que Deus é eminentemente triangular, e um círculo, que a natureza divina é eminentemente circular; assim, cada um atribuiria suas próprias qualidades a Deus.”

Quanto a LIBERDADE DOS HOMENS: “ Os homens pensam que são livres, porque têm consciência de suas volições e desejos, mas ignoram as causas pelas quais são levados a querer ou a desejar”.

A FELICIDADE para Espinosa é definida de forma simples: “presença do prazer e ausência da dor”. Pondo o prazer como transição isto porque o prazer não é a perfeição propriamente dita: “se um homem nascesse perfeito ficaria sem... a emoção do prazer.

O EGOISMO, diz Espinoza: “ é um corolário necessário do instinto supremo de autoconservação, ninguém abandona nada que julgue ser bom, exceto com a esperança de conseguir bem maior”.

A HUMILDADE, diz o filósofo: “ela ou é a hipocrisia do sabido ou a timidez de um escravo; ela significa ausência de força

Sobre o REMORSO: “é antes um defeito que uma virtude: “aquele que se arrepende é duas vezes infeliz e duplamente fraco.”

De INSTINTOS: “são formidáveis como força impulsora, mas perigosos como guias; pois devido ao que podemos chamar de individualismo dos instintos, cada um deles busca satisfazer a si próprio, sem levar em conta o bem da personalidade global’.

ODIAR, diz Espinoza, “é reconhecer nossa inferioridade e nosso medo; não temos ódio de um inimigo que estamos certos de poder vencer. Quem se propõe vingar as injúrias com um ódio recíproco, viverá na infelicidade. Mas quem se esforça por afastar o ódio mediante o amor, luta com prazer e confiança; resiste igualmente um ou a muitos homens e quase não precisa de ajuda da sorte. Aqueles a quem conquista rendem-se a ele alegremente

Encerrando, fica dito que “a PAIXÃO sem a razão é cega e a razão sem a PAIXÃO está morta”.
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 03/06/2015
Reeditado em 03/06/2015
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