Melancolia do fim de domingo
Quando o domingo se aproxima do fim, quando voltamos para casa depois de termos nos divertido bastante, quando as preocupações do dia seguinte começam a ocupar a nossa mente, quando sentamos diante da televisão e nos damos conta de que mais um final de semana terminou, é que costumamos sentenciar gravemente: “Como são melancólicas essas horas!”. E, por mais razões que essa exclamação encerre, quer me parecer que há certo exagero, sobretudo se compararmos essas horas que passamos em casa, ao lado da família, da geladeira e do computador, com aquelas outras que passam, sozinhos, os seguranças de um prédio comercial.
Ora, uma coisa é ser segurança de um prédio desses de dia, durante a semana, cercado de gente andando para lá e para cá. Outra, bem diferente, é ser segurança de noite, em um domingo, quando todas as lojas do prédio estão fechadas e mal se consegue enxergar uma pessoa na rua. Em geral, o segurança tem a companhia de um rádio, onde escuta todos os comentários sobre os jogos da rodada, ou uma televisão, onde assiste aos mesmos programas que nós em casa – mas como devem soar mais tristes para ele! Ali, ali sim, é que se pode falar honestamente na melancolia do fim de domingo.
Às vezes estou na rua e avisto um desses seguranças dentro do seu prédio. Imagino que ele preferia estar em casa. Deve ter família, quem sabe tenha filhos. Talvez quisesse ir à igreja, as pessoas também vão às igrejas no domingo à noite. Mas terá que passar a noite ali, tomando conta de um prédio que não é seu, e unicamente porque não se pode confiar no ser humano, não se pode deixar um prédio dando sopa.
Talvez o cenário não seja tão triste assim. É possível que, indagados a respeito, os seguranças dissessem que já estão bem acostumados com esse jeito solitário de passar as noites de domingo. Isso, sem dúvida, tranquilizaria a nossa consciência. Mas ainda é com ternura que penso na situação deles. Tanto que nunca mais reclamei da musiquinha do Fantástico.