Namoradas e namorados! Uni-vos!
         
          Contavam os gregos aos romanos, pelos ventos dos mares vindos das suas ilhas, que Céfalo e Prócris namoravam e muito se amavam. O marido Céfalo vivia como caçador na floresta, aventurando-se em matas e bosques. Caçando e sempre caçando, indiferente à insinuada paixão que, insistentemente, oferecia-lhe Aurora. Ao voltar da caça, Céfalo se satisfazia, em casa, com o amor e os carinhos que sua mulher Prócris lhe dedicava. Mas, Aurora, irada com a indiferença de Céfalo, rogou-lhe a praga de que haveria de lhe acontecer uma escomunal desgraça.
          Ignorando tal fatídico augúrio, certo dia, Céfalo, fatigado das suas caçadas, deitou-se para descansar nas folhas retiradas das árvores pelo outono. Observado por Aurora que furtivamente o acompanhava, olhou para os ventos no céu e, como se segredasse um pedido, sussurrou: “Suave brisa, vem e leva o calor que me queima”.  Aurora escutou suas palavras e correu para malquistar Prócris com o esposo, mexericando o que acabara de ouvir, acrescentando que Céfalo, durante as longas caçadas, encontrava-se com a amante ‘Brisa’; e sempre ao entardecer, antes de voltar para casa, deitava-se com ela no bosque para aliviar o fogo do seu corpo. A trama intrigante de Aurora levou Prócris a se enciumar e, escondida entre os arbustos, a seguir o marido. Até que, exausto, ele se deitou na grama e pediu aos ventos as costumeiras carícias: “Vem, brisa suave, vem afagar-me, apaga este calor”.  Sua companheira Prócris reconheceu a voz do marido, acreditou no enredo de Aurora e, arrebatada por um agudo ciúme, debulhou-se em pranto. O marido caçador, imaginando a proximidade de alguma caça atrás da folhagem, atirou seu dardo contra o estranho barulho que provinha da moita, acertando sua querida Prócris; rastreou a presa atingida e encontrou sua amada que, ensanguentada e agonizante, implorou: “Amado Céfalo, nunca se case com essa perversa Brisa que causou entre nós essa tragédia”.
          Também em lágrimas, Céfalo lhe explicou que a ”brisa” a quem falava era apenas o vento. Assim terminavam os gregos esse conto, admoestando namorados e namoradas: O ciúme envenena a confiança; faz sofrer, causando angústia, amantes e amados; e torna a convivência intolerável. Boca a boca, acrescentavam  os romanos que o jovem caçador Céfalo vagou para sempre na floresta e, perdido da poesia, nunca mais recitou versos ao vento, ouvindo para sempre o pranto de Prócris, trazido pela brisa: “O ciúme desgraça o amor”...