"Relaxa e goza!": Entre Martinhas, Cabralzinhos e Clôs do nosso Brasil varonil
"Relaxa e goza; depois você esquece todos os transtornos".
Depois do espanto dos repórtes que a entrevistavam, a nobre Ministra-Sexóloga Marta Suplicy resolve, em uma pérola, fechar a entrevista coletiva do início da tarde de ontem com a expressão, a seguir: "Ah, gente, é igual a dor do parto. Depois você nem se lembra".
A crônica de hoje é uma crônica do retrato político do país. Destina-se à altura dos personagens que ilustram um pouco do cotidiano político que vivemos e participamos, diretamente ou não - entre espectadores, coadjuvantes e atores principais de uma cena que nos enreda, por mais que neguemos ou queiramos omitir. Um quadro "sui generis"; atípico de quem, por trás de uma ação ou de uma expressão dita, nunca entendeu, a fundo, o grau de profundidade analítica.
Por um lado, uma ministra que caminhou a sua carreira política na defesa da liberdade sexual, confundindo-se com as funções públicas, em sua carreira, de Deputada Federal, Prefeita de São Paulo e, agora, Ministra do Turismo.
Dentre a sua pífia atuação no Ministério, como uma figura decorativa do atual governo petista, sua imagem não seria comprometedora. Sem os holofotes midiáticos que ela se acostumara em seus programas das tardes semanais e nas suas entrevistas como Prefeita da maior metrópole brasileira, Marta, ao tratar sobre a crise aeroportuária, resolveu um problema que se arrasta a meses com uma máxima "anarco-popular": "RELAXA E GOZA!".
Quem viu isso na TV ou na internet teve ações distintas. Uns sentiram-se ofendidos, diante da má-repercussão. Outros seguiram à risca, literalmente ou simbolicamente. Alguns estavam nem aí para as declarações da mãe do Supla. Afinal, tanto faz, tanto fez... "ela está lá, entre os carpetes vermelho-carmesins de Brasília e eu estou aqui".
Uma das pessoas que seguiu a fundo a recomendação da Marta foi o atual Governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Mostrando-se, a princípio, um menino operoso, obediente e boa-pinta, aos poucos acomodou-se no Palácio Guanabara, em um acochambramento digno de quem anda deslumbrado pelo poder, pela roda de subservientes e pelas facilidades que o seu status confere.
E enquanto isso acontece, o Rio está à beira de um colapso, a ponto de gerar um impasse, entre o orgulho bobo da maior autoridade da política fluminense e a necessidade de patrulhamento e proteção do Estado pelas Forças Armadas durante o evento dos Jogos Panamericanos na cidade do Rio de Janeiro.
Enfim, para falar dele, é preciso compreender um pouquinho de sua trajetória. O "menino do Rio que nos provoca arrepio" tem continuado a ser um rapazola pirracento. Um garoto travesso que não admite o resultado de suas travessuras e traquinagens a frente do Rio, no Palácio Guanabara. Parece que ele se deslumbrou com o Palácio, depois de ter se acostumado à vidinha na ALERJ e ver que Brasília era muito distante daquilo que almejava.
Ele brincou, usando-se da confiança e do bom trânsito com a terceira-idade. Pobres idosos, em sua candura e fragilidade! Receberam aquele menino com muito afago, despejando mais de 400 mil votos em sua última eleição para Deputado Estadual. Coroaram o jovem Cabral como um dos parlamentares estaduais mais votados do país. Não satisfeito, brincou com a confiança dos militantes e do próprio casal que o ajudou a se eleger. E com toda a sua puerilidade, afastou-se dos seus amiguinhos, passando a desfrutar da companhia e do coleguismo de gente que em nada tem interesse, senão de destroçar o que ainda existe de bom no Rio de Janeiro.
São personagens com o top do Cabralzinho e da Martinha Suplicy que fazem a política brasileira ser um quadro alegórico típico de uma cena política bem-humorada. De um lado, o travesso menino, em uma crise freudiana, não sabe se é jornalista-aspirante, parlamentar-governador ou "menino do Rio". Por outro, uma sexóloga mal-resolvida, confundindo a sua vida política com os "Talk-shows"; mandando, em sua máxima, a seguinte expressão "relaxa e goza". Afirmou essa máxima, como se todos os problemas nacionais se auto-resolvessem em uma palavra-mágica de "auto-ajuda". E tem gente, como o Cabral, o Clodovil e o próprio Senado - em defesa do intocável Calheiros - que seguem à risca o axioma universal da Ministra-Sexóloga do Turismo.
Entre micos e gafes, há um misto de ceticismo institucionalizado e uma esperança masoquista, enredado pela confiança de milhões de ingênuas e ingênuos (como eu) que acreditam piamente que o Brasil pode mudar. Entre um exemplo e outro - mirando por vezes aos panteões do nacionalismo e do trabalhismo -, ainda, em meu faz-de-conta quimérico e quixotesco, acredito que, em um mero toque de condão, um ser iluminado diga: "acabou a fome e a corrupção: viva a igualdade, com a conciliação!". E a partir daí, tudo se faria novo, exatamente ao estado original das coisas. Algo tão irreal, inimaginável a nós e, por vezes, para alguns, mítico demais.
"Relaza e goza!"... será? Qual é o nosso grau de impotência ou de inconformidade nossa? Não sei, talvez, o resultado desse colapso. O resultado entre o idealismo incrédulo e passivo e a minha racionalidade parva, inapta e, por vezes, sem qualquer lastro de razoabilidade. Entre Cabralzinhos, Martinhas, Clôs, Calheiros et catervas da vida, não há outra solução a não ser a máxima psicanalítica e abrangente a milhões de brasileiros aflitos, desesperançosos e sem mais um rumo a seguir: "Relaxa e goza!".
É um orgasmo que não acaba mais, no dia-a-dia e na política do nosso país. Faz-se, enfim, a promoção gratuita da sexologia e da sexualidade. A amplitude elaborada em torno das visões e relações políticas sobre o Brasil. Relações calcadas entre o ceticismo e o bom-humor, indissociáveis entre si.
Parafraseando Marx: "Cidadãos de todo do Brasil: Uni-vos! Relaxem e gozem com a política brasileira!"
Viva o Brasil! E a vida segue... toquemos o barco!