Retrato

Retrato de um jovem velho, e cabisbaixo para a vida. Em dias se considera o valentão, mas a noite é inimigo da solidão. Solidão é essa que o tortura, deixa-o alucinado diante da metamorfose da vida. Ela parte ele em pedaços, não pedaços do corpo, mas pedaços da alma, do ser. E tenta entender cada parte ao todo, porém quanto tenta mais procurar, mais distante fica do todo. A moldura do retrato é rustica, um tanto inebriante, diante dos olhos fatigados do jovem velho. O riso jovial, o olhar despretensioso, parecendo que nenhum problema o afeta, mas as rugas distorcem a realidade do invísivel. O oculto, é preciso de muita calma e paciência para admira-lo, pois poderá formular várias perguntas, mas nenhuma resposta. A essência que foi colocada num moinho, e foi lentamente triturada ao longo dos anos, para formar mais uma essência estonteante. O ser é aquilo que não é explicado, não tem fórmulas, não tem facetas, é uma incógnita sem fim. O ser é, mas ao mesmo tempo não é. O ser é um bicho pequeno, e por outras vezes um bicho grande. O observador de tanto ohar o retrato resolveu fazer parte dele. Entrou nas entrelinhas da vida do jovem velho, e ficou atordoado, porém feliz. Soube que a vida é misteriosa, e que a morte mais ainda. E o ser, ah… o ser…. esse está além do mistério da vida e o da morte.