A ASSOMBRAÇÃO

Depois do almoço, numa padaria de uma cidadezinha do interior, o balconista conversava com o padeiro pra espantar o sono.

- Vandilim, você sabia que o meu avô era um delegado incrédulo?

- É mesmo, Zezé?

- É cara. O velho não acreditava em nadica de nada.

Nisso, chegou um bêbado, encostou-se no balcão e disse:

- O papo doceis tá muito bão e eu vô ficano por aqui mermo.

Os dois colegas continuaram o assunto, sem ligar pra ele.

- E aí, Zezé? Continua.

- Aí, na casa de um Coronel começou a aparecer uns troços esquisitos.

Vovô, corajoso que só ele, não acreditando no que o povo estava falando, foi ver de perto o que estava acontecendo.

Chegando á tal casa mal-assombrada, ele parou na porta da sala, pra conversar um pouco, e pediu um copo d’água como era de costume.

Enquanto foram buscar, o copo veio rodando no ar até a mão do vovô. Espantado, ele tomou a água. Em seguida, fez o gesto de tirar o chapéu da cabeça e o mesmo saiu voando e foi parar no cabide de chapéus da sala.

Meio assustado, vovô entrou, a convite do dono da casa, e sentou-se.

Nesse exato momento, passou sobre ele um amarrado de punhais e facas, que o Coronel havia apreendido, e cravou na parede pouco acima da sua cabeça.

Antes, meio assustado, agora assustado e meio, vovô se despediu e foi embora arrepiado dos pés à cabeça de tanto medo.

- Cruz em credo, Zezé! É mesmo?! E depois?

- O Coronel, então, resolveu mudar de casa.

Colocou a mobília em cima de um carro de boi, subiu com a sua mulher e os filhos e deixou o pilão de socar arroz pra trás, por ser muito pesado.

Quando chegaram à nova residência, o pilão chegou voando atrás deles, bateu com toda força no chão e disse com voz grossa e rouca:

- Vocês se esqueceram de mim, mas, estou aqui!

Menino, eles ficaram apavorados e se borraram, até o boi.

- Uai, Zezé! Como é que o pilão pesado foi voando daquele jeito, sô?!

- Não sei. Só sei que enquanto o padre não foi benzer a casa, a tentação não desapareceu.

O tonto, com as duas mãos no queixo e debruçado sobre o balcão, ouvia tudo calado. Eles nem lhe davam confiança.

O balconista, sentindo que o colega não estava acreditando na história, disse-lhe:

- Vandilim, se você está achando que é mentira minha, pode perguntar à minha irmã, que mora aqui ao lado da padaria.

O bêbado entrou na conversa e completou:

- É bem capaiz dela confirmá os absurdu que ocê acabô de dizê aí, rapaz. Ocêis são tudo uma cambada de mintiroso.