Sinal Verde

Eu estava parada atrás dele no semáforo quando ficou verde. E nada. A criatura ficou parada como se estivesse assistindo a um filme no telão de dentro do carro. Pensei: Buzino? Espero?

Naquela fração de segundos tive que decidir se aquela pessoa precisava ser cutucada para ir em frente. E se seria eu a pessoa que deixaria isto claro. Cutucar alguém não é a coisa mais confortável do mundo. Ser cutucada, muito menos. Mas, muitas vezes, é necessário. E solidário. Pode ser com um cutucão nosso que o passo que precisa ser dado por alguém aconteça. Nem todos conseguem ir em frente com coisas da vida sem que alguém dê uma forcinha. Há quem precise de um empurrãozinho amigável para casar, se formar, sair da casa dos pais, montar um negócio, ter filhos e por aí vai...

A intenção é dar um empurrãozinho. Não um serviço de babá 24 horas. É quando alguém estende a mão para que tenhamos coragem e companhia para dar aquele passo que sinaliza que estamos em movimento e em frente.

Por muitas vezes, é alguém estranho que faz este papel. Oferece uma ajuda instantânea e extremamente útil. Pode ser um psicólogo, um conhecido, uma mensagem lida em um livro ou até mesmo alguém que providencialmente está parado atrás de você no semáforo.

Porque muitas coisas vividas correm o risco de empacar em um dos sinais verdes que a vida apresenta. Mas estamos, naquele momento, enxergando um vermelho. Uma imagem, um pensamento que segura, que freia ao invés de nos autorizar a seguir e viver todos os caminhos possíveis e disponíveis vida afora.

Aprendi a ser mais gentil com os empacados que cruzam o meu caminho. E também ser mais gentil comigo quando sou eu quem empaca. Ás vezes, a coisa é séria. Quanto mais buzinam, mais empacada fico. Porque o timing para agir vem de dentro. Há buzinas que ajudam e que nos acordam para o momento de se mover.

Há buzinas que atropelam o nosso momento. Só daremos o próximo passo com a autorização da nossa alma que comanda o nosso coração e nossos pés. O desafio é equilibrar nossos pés para entender que, no trânsito da vida, não é somente o nosso tempo que conta. Há outros que precisam que sigamos para poderem seguir também. Deixamos de fluir e impedimos que o outro siga seu caminho.

Ás vezes, paramos mesmo quando o caminho está liberado para seguir. Acho que esta é a parte da indignação de quem buzina. Há tempo para seguir e tempo para parar. Somente quando estamos confusos com nossos pedais internos é que trocamos freio por acelerador. E aí? Bem, aí acontecem acidentes de proporções variadas. Ou, na melhor das hipóteses, um buzinaço.

De alma para alma

Fernanda Nunes Gonçalves