JUNHO QUE ME MARCOU

Lembro-me bem de um ano que entrei numa fria, literalmente. Empresário, cliente do banco, possuía um sítio e fazia todos os anos sua festa junina: com churrasco, baile caipira, quentão e fazia questão que o pessoal comparecesse. Como corria um boato de que ele não estava bom das pernas – dificuldade financeira – ninguém quis ir. Para não decepcioná-lo, comprometi-me a ir. Dias antes, ele compareceu na agência e disse-me que era costume fazer uma pequena procissão ao redor da sede e rezar o terço. E intimou-me a conduzir a recitação do Santo Rosário. Sem coragem de recusar, concordei. Nos dias seguintes reuni-me com o colega Floriano que pertencia a Irmandade da igreja local para me ensinar. E comprei até um terço, é claro. Creio que ninguém notou a minha falta de jeito. Mas só fui até duas dezenas, para não alongar demais a cerimônia.

Pouco tempo depois, ele fugiu com a família, deixando muitos credores vendo navio. O banco estava garantido pela hipoteca e não precisei me preocupar. Seu advogado procurou a agência e resolvemos, amigavelmente. Até hoje, nas minhas orações, torço para que esteja bem e que o proteja, esteja onde estiver.

Yoshikuni
Enviado por Yoshikuni em 01/06/2015
Código do texto: T5262091
Classificação de conteúdo: seguro