Voando e cronicando
1. Aeroporto Internacional Tom Jobim, o velho Galeão. Acabei de decolar. Neste exato momento, o meu Airbus está furando, decidido e corajoso, as densas nuvens que cobrem o céu do Rio de Janeiro. Rezo para que não venham as indesejáveis turbulências; morro de medo!
2. O tempo de voo até Salvador é de aproximadamente 1 hora e 40 minutos. É o que acaba de informar o comandante da aeronave, um sujeito simpático e com a cara de muitas horas pelos caminhos dos céus.
3. As luzinhas do painel foram apagadas, abrandando, parcialmente, o uso dos cintos de segurança. Um bom sinal: o avião atingira a altura-cruzeiro, previamente programada. Voava sobre as nuvens.
4. As aeromoças, também chamadas de comissárias de bordo, viraram garçonetes de luxo e, diligentes, preparam o lanche a ser servido aos passageiros.
Lanche que - quem viaja sabe disso -, não é grande coisa. A gente paga uma nota por uma passagem aérea e, a bordo, a empresa oferece uma merendinha fuleira, como se diz lá no meu Ceará moleque.
5. Enquanto as aeromoças (prefiro chamá-las assim) preparam o carrinho do lanche, continuo no meu cantinho escrevendo estas linhas, num sofreguidão dos diabos; de "fazer dó", como diz minha mulher.
Escrevo para ver o tempo passar mais rápido. Não sou bom de avião, já disse isso milhares de vezes. Gosto de trem e de ônibus. Mas estou no Brasil onde nem os trens nem os busus prestam. Por isso, não há como fugir dos aviões.
6. Bem que queria enfrentar os voos como minha digníssima consorte: Ivone, aqui do meu lado, comporta-se como se estivesse fazendo as unhas no salão de sua preferência, o Novos e Velhos, que fica a um quarteirão de nossa casa. 7. Neste momento, o avião atravessa o que o comandante chamou de "área de instabilidade". As luzinhas do painel foram imediatamente acesas. E logo aquele preocupante mas necessário aviso: "Mantenham-se sentados e com os cintos afivelados." Continuo escrevendo.
8. Noto que aos pouco o tempo está melhorando. Já consigo ver pedaços de céu, através das janelinhas do meu A-320, completamente lotado.
O sol, devagarinho, volta a brilhar. Mas a aeronave continua bailando, agora sobre o céu de Minas Gerais.
9. Chegou a hora do lanche. Fulerinho, como eu esperava: um pacotinho de biscoito; um pacotinho de amendoim; sucos e refrigerantes. Arrisco-me a pedir uma cervejinha. Sou delicadamente informado de que não é servida bebida alcoólica nos voos domésticos. Protestei.
10. Confessando ser diabético, peço um suco Diet. Resposta: "Não temos. Só coca zero." Quase digo um palavrão. Impede-me de dizê-lo a beleza cativante da aeromoça Helen.
Deixo com ela esse recado: Moça, diga à sua empresa que os diabéticos também voam. Ela sorriu.
11. Os minutos de viagem já são muitos. Não digo quantos porque, durante o voo, esqueço que tenho relógio. Para mim, um segundo no ar é uma eternidade.
12. Sinto, pelo leve inclinar da aeronave, que o pouso está próximo. Meu Boeing, mais sereno do que nunca, segue rumo ao nordeste. As turbulências sulinas ficaram para trás. O céu é de brigadeiro.
13. Eis que descubro as primeiras praias baianas; sinal de que, até Salvador, é questão de minutos. O comandante, se despedindo, avisa, com voz vitoriosa, de que foram iniciados "os procedimentos para o pouso." Alegra-me a informação do piloto.
14. De repente, Salvador, iluminada por um resplandecente sol, aparece na pequena janela do Boeing, que prosseguirá viagem, com destino a Belém do Pará.
15. Desligo o meu I Pad, com essa croniqueta guardada nas suas entranhas.
Pouso perfeito! Deixo a aeronave, ouvindo um sonoroso "Obrigado!" da Helen. Respondo, repetindo Drummond, na sua crônica Aeroprosa , saudando as aeromoças: Bom Céu!
1. Aeroporto Internacional Tom Jobim, o velho Galeão. Acabei de decolar. Neste exato momento, o meu Airbus está furando, decidido e corajoso, as densas nuvens que cobrem o céu do Rio de Janeiro. Rezo para que não venham as indesejáveis turbulências; morro de medo!
2. O tempo de voo até Salvador é de aproximadamente 1 hora e 40 minutos. É o que acaba de informar o comandante da aeronave, um sujeito simpático e com a cara de muitas horas pelos caminhos dos céus.
3. As luzinhas do painel foram apagadas, abrandando, parcialmente, o uso dos cintos de segurança. Um bom sinal: o avião atingira a altura-cruzeiro, previamente programada. Voava sobre as nuvens.
4. As aeromoças, também chamadas de comissárias de bordo, viraram garçonetes de luxo e, diligentes, preparam o lanche a ser servido aos passageiros.
Lanche que - quem viaja sabe disso -, não é grande coisa. A gente paga uma nota por uma passagem aérea e, a bordo, a empresa oferece uma merendinha fuleira, como se diz lá no meu Ceará moleque.
5. Enquanto as aeromoças (prefiro chamá-las assim) preparam o carrinho do lanche, continuo no meu cantinho escrevendo estas linhas, num sofreguidão dos diabos; de "fazer dó", como diz minha mulher.
Escrevo para ver o tempo passar mais rápido. Não sou bom de avião, já disse isso milhares de vezes. Gosto de trem e de ônibus. Mas estou no Brasil onde nem os trens nem os busus prestam. Por isso, não há como fugir dos aviões.
6. Bem que queria enfrentar os voos como minha digníssima consorte: Ivone, aqui do meu lado, comporta-se como se estivesse fazendo as unhas no salão de sua preferência, o Novos e Velhos, que fica a um quarteirão de nossa casa. 7. Neste momento, o avião atravessa o que o comandante chamou de "área de instabilidade". As luzinhas do painel foram imediatamente acesas. E logo aquele preocupante mas necessário aviso: "Mantenham-se sentados e com os cintos afivelados." Continuo escrevendo.
8. Noto que aos pouco o tempo está melhorando. Já consigo ver pedaços de céu, através das janelinhas do meu A-320, completamente lotado.
O sol, devagarinho, volta a brilhar. Mas a aeronave continua bailando, agora sobre o céu de Minas Gerais.
9. Chegou a hora do lanche. Fulerinho, como eu esperava: um pacotinho de biscoito; um pacotinho de amendoim; sucos e refrigerantes. Arrisco-me a pedir uma cervejinha. Sou delicadamente informado de que não é servida bebida alcoólica nos voos domésticos. Protestei.
10. Confessando ser diabético, peço um suco Diet. Resposta: "Não temos. Só coca zero." Quase digo um palavrão. Impede-me de dizê-lo a beleza cativante da aeromoça Helen.
Deixo com ela esse recado: Moça, diga à sua empresa que os diabéticos também voam. Ela sorriu.
11. Os minutos de viagem já são muitos. Não digo quantos porque, durante o voo, esqueço que tenho relógio. Para mim, um segundo no ar é uma eternidade.
12. Sinto, pelo leve inclinar da aeronave, que o pouso está próximo. Meu Boeing, mais sereno do que nunca, segue rumo ao nordeste. As turbulências sulinas ficaram para trás. O céu é de brigadeiro.
13. Eis que descubro as primeiras praias baianas; sinal de que, até Salvador, é questão de minutos. O comandante, se despedindo, avisa, com voz vitoriosa, de que foram iniciados "os procedimentos para o pouso." Alegra-me a informação do piloto.
14. De repente, Salvador, iluminada por um resplandecente sol, aparece na pequena janela do Boeing, que prosseguirá viagem, com destino a Belém do Pará.
15. Desligo o meu I Pad, com essa croniqueta guardada nas suas entranhas.
Pouso perfeito! Deixo a aeronave, ouvindo um sonoroso "Obrigado!" da Helen. Respondo, repetindo Drummond, na sua crônica Aeroprosa , saudando as aeromoças: Bom Céu!