PEDRAS NO MEU PUMA

Há uma semana vinha combinando com meu amigo Rafa de irmos a uma boate que estava comemorando seu segundo ano com as portas abertas...Não era grande coisa, nem a festa muito menos a boate, mas eu estava cansado de ficar em casa pensando na vida e tomando capuccino. Com isso, estava aceitando até a reinauguração do boteco da esquina!!!

Precisava ver gente, sentir a batida forte da música acelerando meu coração. Beijar na boca, ter uma boa conversa... Mas o que eu mais queria, era relaxar, sentir que estava vivo.

Na segunda-feira quando ia dormir, comecei a fantasiar aquela noite, fazia tanto tempo que eu não saía, TINHA que ser perfeito. Mais com essa obrigação comecei a listar o que NÃO podia acontecer naquela noite em potencial.

“Definitivamente eu tinha que estar perfeito, roupa, cabelo, pele, nada que me deixasse na dúvida com meu ego...” Ainda bebendo na fonte dos medos... “Nada podia sair errado!!!”, ”Não podia encontrar Fulano!”, “Já pensou se me nasce uma espinha? Meu deus, não quero nem pensar!!!”, “Tenho que ficar com alguém, ando carente. Sabe???”

E assim foi indo, de segunda à sexta (inconscientemente) minando minha noite.

O que eu não sabia é que na vida há sempre dois caminhos, em todas as vertentes e tradições, cultos e religiões pregam que há luz e trevas, claro e escuro, yin e yang, certo e errado e finalmente branco e preto.

Eu naquela semana toda me foquei apenas nos meus medos, nos meus temores, torcendo, meditando, rezando para que eles ficassem apenas nos meus pesadelos, que eles não viessem para a doce realidade da vida.

Finalmente o grande dia tinha chegado, um sábado frio, com o céu negro e uma bela lua cheia. Até que enfim poderia usar meu casaco da Triton, guardado no armário por causa do calor. Enquanto eu me vestia, sentia toda aquela excitação causada pela minha expectativa posta naquela noite.

Estava saindo do meu quarto quando avisto na altura do meu pescoço a maldita, uma espinha, gorda e feia. Coloquei a mão tentando esconder, não conseguia acreditar, não era justo, tanto dia pra ela aparecer foi “nascer” logo no GRANDE dia!” As coisas começavam a azedar.

Porem, não tinha mais o que fazer, era encarar o fato, estava com meu famoso Puma preto e uma espinha no pescoço acenando para todos.

O que eu não podia acreditar era o que aconteceria alguns minutos depois:

Uma espera infinita pelo meu amigo, uma dor de cabeça daquelas que embrulham o estômago, causada por cerveja, que odeio.

Mas quando a infelicidade chega ela traz a família, e tudo o que eu não queria que acontecesse de uma forma ou de outra começava a se tornar realidade, pessoas feias se aproximavam, eu começava a me sentir transparente e pra lá de sem graça. Fulano que eu não queria encontrar cutucava minhas costas dando um olá...!

A noite estava perdida. Eu não entendi o porquê, mais no fundo me sentia culpado, não podia ser azar, pessoa certa lugar errado, nada disso faz sentido pra mim. Mas o que eu não esperava era ficar sozinho na boate, por causa de um grande mal entendido envolvendo uns amigos meus, que foram postos para fora da boate, literalmente sendo expulsos, me deixam lá.

Mas eu sabia o que fazer, a noite já estava acabada, com apenas meia hora de boate, eu já me sentia acabado e cansado. E sendo impedido por todos me juntei ao grupo dos “expulsos”, já não fazia diferença mesmo.

Enquanto atravessava a porta que dividia o mundo do faz-de-conta com o da realidade me questionei ao fato de que partindo do princípio de que nem todos os dias são bons, tem uns que capricham no amontoado de coisas ditas como ruins.

Digo ditas, porque elas normalmente são opostas aos seus planos, ao seu ideal de um dia perfeito e por aí vai...

Mas no final não sabemos mesmo se elas são ruins. Porém, que dão muita dor de cabeça, ah isso dão.

Voltei pra casa desolado, carregando o pesado manto da decepção. Me sentindo fora do comando, uma coisa que me causa grande agonia. Era como se eu estivesse desfilando a coleção de outono, morta e sem graça.

Naquele dia nenhuma resposta ou consolação chegou, mas como em um ciclo, num futuro extremamente breve ela aproximou, como quem não quer nada, se abriu como um dia de primavera, revelando todos os segredos.

Não era à toa que eu estava me sentindo culpado, realmente eu era o causador de tantos “danos”... A vida é movida por uma lei universal, a da atração. Eu tinha duas opções, me focar no que eu queria, no belo, nas dádivas daquela noite, mas erroneamente, por descuido, por educação, já não sei mais, me foquei nos temores, e assim só atrai eles para minha realidade. E com aquela resposta pus um ponto final à temporada de outono. Ela tinha chegado ao final.

Com isso, que venha a coleção de inverno, trazendo muito calma, novidades e lógico glamour, assim como a moda, a vida sem ele é pra lá de chata!