POR UM TRIZ...

O texto a seguir é continuação do anterior e foi extraído de “Crônicas da Vida Inteira”, livro inédito sobre fatos da minha vida, adaptado para o Recanto das Letras.

POR UM TRIZ...

Quando chegou a minha vez de ir ao frigorífico surrupiar melancias pra turma, o susto foi grande. Fui de orelha em pé, pronto pro que desse e viesse. Azarado como eu só, cheguei lá, abri a câmara, entrei, e de repente me vi naquela escuridão medonha. Descuidado e desprevenido, deixei que a porta se fechasse atrás de mim, apagando a luz interna. Apalpei, apalpei e nada de achar coisa alguma que me safasse daquela situação. Nem interruptor nem maçaneta, nada. Comecei a ficar nervoso. Se os colegas não se importassem com minha demora, em pouco tempo eu viraria presunto fresquinho ali dentro, embora a câmara não fosse tão fria, de temperatura apropriada pra verduras.

Tive, porém, mais sorte que juízo. Acho que não levou cinco minutos, que pra mim foram uma eternidade, a porta foi aberta e uma das freiras da cozinha, uma delas já bem idosa, apareceu e levou o maior susto ao ver-me ali. Ela sorriu, pôs o dedo nos lábios em sinal de aprovação e mandou que eu fizesse o que tinha por fazer. Retribuí o sorriso e mais que depressa passei a mão nas duas melancias mais próximas e me safei dali num relâmpago.

Os colegas nem ficaram sabendo do ocorrido. Mas eu ganhei uma cúmplice.

— Eu acho que foi uma injustiça o que aconteceu a vocês — confessou-me ela na vez seguinte.

Cada vez que eu ia lá, tratava de ter a dita irmã por perto, como meu anjo da guarda. Ela me atendia prontamente e ficava cuidando pra que a porta não se fechasse novamente.

Convite: Se você gostou desta minha crônica, do meu estilo de narração, leia as anteriores, mas em ordem cronológica, começando pelas primeiras que foram postadas.