1952 - 2015
A vida corria serena, naquela vila que de tão pequenina, mal era um ponto no mapa. O calendário pregado logo acima do fogão à lenha, marcava um dia do mês de junho do ano de 1959.
A cena simples e acolhedora, era vivida com alegria pela menina de seis anos e meio de idade, à mesa da cozinha ela degustava devagar a primeira refeição da manhã. Ainda não frequentava a escolinha da vila, e por isso o dia era todo seu, para explorar cada canto do imenso quintal.
Sem pressa, ela mastigava uma fatia grossa do pão esquentado na chapa do fogao à lenha, e coberto pela manteiga fresca, feita em casa.
Seus olhinhos curiosos trasitavam por tudo, sentada de frente para o guarda-comida branco, ela observava as latas de mantimentos que descansavam sobre as toalinhas de crochê, feitas pela avó. Leninha sabia de cor o que cada uma delas armazenava, e tinha uma predileção especial pela segunda lata, pois ali sua vó acondicionava os deliciosos enroladinhos de goibada, feito com as frutas colhidas do quintal.
Sobre a pia o coador de pano ainda gotejava as últimas gotas do saboroso café, e debaixo da pia, uma cortina de tecido xadrez na cor azul e branco, impediam que as panelas ficassem expostas, se bem que deveriam ficar, pois, eram tão lustrosas, que poderiam servir de espelhos.
Sobre o fogão à lenha, a chaleira de ferro estava sempre cheia de água quentinha, uma panela grande, aquela hora cedinho da manhã, cozinhava lentamente o feijão, também plantado na horta da casa.
A mesa de madeira tinha ao seu redor meia dúzia de cadeiras, em frente à ela, uma imensa janela se abria para o jardim repleto de dálias, cravos, margaridas, rosas, hortências, lírios, no peitorial de batente largo da janela, descansava em um tacho grande de cobre o doce de abóbora com coco, que depois de ser muito apurado, tinha a cor dourada do mais belo poente, e cheirava tão bom, que Leninha pensou como iria poder esperar até depois do almoço para prova-lo.
A voz da avó despertou Leninha dos seus devaneios, e veio lembra-la que era hora de tirar o pijama de flanela. No quarto imenso de teto alto, com assoalho de tábua corrida, a menina abriu o pequeno guarda-roupa, e escolheu um traje para passar o dia, porém, logo sua vó, a fez mudar de ideia, afinal, fazia um dia frio, e a roupa escolhida não seria apropriada.
Com carinho aquelas mãos tão conhecidas ajudaram Leninha a se vestir, em seguida vinha a parte que ela mais gostava, com um salto rápido, sentou-se na cama, e deixou o velho pente ser conduzido pelas mãos da avó, sobre os seus longos e finos cabelos, e depois de poucos minutos, a trança já exibia em sua ponta um pequeno laço de cetim branco.
2015, Leninha (para os seus familiares, continua sendo Leninha) desperta de suas lembraças, sentada em sua poltrona preferida, laptop no colo, kindle na mesinha ao lado, iphone ao alcance da mão, beirando os sessenta e três anos de idade, ela contempla o avanço imenso da tecnologia, tão longe do rádio de válvulas, e do fogão à lenha de sua infância, e reconhece sem pestanejar, que as inovações são bem vindas e facilitadoras, porém, não são responsáveis pela serenidade e entusiasmo de viver, que continuam vivos dentro de sua alma.
Isso ela encontra no mesmo lugar onde esteve desde a sua meninice: no AMOR, que ela recebe dos seus entes queridos.
(Imagem: Lenapena)
A vida corria serena, naquela vila que de tão pequenina, mal era um ponto no mapa. O calendário pregado logo acima do fogão à lenha, marcava um dia do mês de junho do ano de 1959.
A cena simples e acolhedora, era vivida com alegria pela menina de seis anos e meio de idade, à mesa da cozinha ela degustava devagar a primeira refeição da manhã. Ainda não frequentava a escolinha da vila, e por isso o dia era todo seu, para explorar cada canto do imenso quintal.
Sem pressa, ela mastigava uma fatia grossa do pão esquentado na chapa do fogao à lenha, e coberto pela manteiga fresca, feita em casa.
Seus olhinhos curiosos trasitavam por tudo, sentada de frente para o guarda-comida branco, ela observava as latas de mantimentos que descansavam sobre as toalinhas de crochê, feitas pela avó. Leninha sabia de cor o que cada uma delas armazenava, e tinha uma predileção especial pela segunda lata, pois ali sua vó acondicionava os deliciosos enroladinhos de goibada, feito com as frutas colhidas do quintal.
Sobre a pia o coador de pano ainda gotejava as últimas gotas do saboroso café, e debaixo da pia, uma cortina de tecido xadrez na cor azul e branco, impediam que as panelas ficassem expostas, se bem que deveriam ficar, pois, eram tão lustrosas, que poderiam servir de espelhos.
Sobre o fogão à lenha, a chaleira de ferro estava sempre cheia de água quentinha, uma panela grande, aquela hora cedinho da manhã, cozinhava lentamente o feijão, também plantado na horta da casa.
A mesa de madeira tinha ao seu redor meia dúzia de cadeiras, em frente à ela, uma imensa janela se abria para o jardim repleto de dálias, cravos, margaridas, rosas, hortências, lírios, no peitorial de batente largo da janela, descansava em um tacho grande de cobre o doce de abóbora com coco, que depois de ser muito apurado, tinha a cor dourada do mais belo poente, e cheirava tão bom, que Leninha pensou como iria poder esperar até depois do almoço para prova-lo.
A voz da avó despertou Leninha dos seus devaneios, e veio lembra-la que era hora de tirar o pijama de flanela. No quarto imenso de teto alto, com assoalho de tábua corrida, a menina abriu o pequeno guarda-roupa, e escolheu um traje para passar o dia, porém, logo sua vó, a fez mudar de ideia, afinal, fazia um dia frio, e a roupa escolhida não seria apropriada.
Com carinho aquelas mãos tão conhecidas ajudaram Leninha a se vestir, em seguida vinha a parte que ela mais gostava, com um salto rápido, sentou-se na cama, e deixou o velho pente ser conduzido pelas mãos da avó, sobre os seus longos e finos cabelos, e depois de poucos minutos, a trança já exibia em sua ponta um pequeno laço de cetim branco.
2015, Leninha (para os seus familiares, continua sendo Leninha) desperta de suas lembraças, sentada em sua poltrona preferida, laptop no colo, kindle na mesinha ao lado, iphone ao alcance da mão, beirando os sessenta e três anos de idade, ela contempla o avanço imenso da tecnologia, tão longe do rádio de válvulas, e do fogão à lenha de sua infância, e reconhece sem pestanejar, que as inovações são bem vindas e facilitadoras, porém, não são responsáveis pela serenidade e entusiasmo de viver, que continuam vivos dentro de sua alma.
Isso ela encontra no mesmo lugar onde esteve desde a sua meninice: no AMOR, que ela recebe dos seus entes queridos.
(Imagem: Lenapena)