Uma História Inédita

Naquele dia...

Vesti o meu melhor vestido, uns sapatos de salto que combinavam com o vermelho, olhei para o espelho e me senti radiante, afinal, alguém mais estava dentro de mim. Um dia antes decidi ir ao cabeleireiro tratar do cabelo, fiz manicura e pédicure. Saí do salão com cabelo ao vento esvoaçando enquanto caminhava em direcção ao carro, me sentia poderosa, os olhares felinos me deixavam um pouco sem jeito, mas, não hesitava na marcha até ao carro...

Em casa, o silêncio das paredes fazia-me sentir abandonada, solitária e miserável, pus o volume do televisor no máximo, queria espantar aquele clima melancólico, que de alguma forma estava em mim... Essa parecia ser a noite mais longa de todas as noites mal dormidas, o meu subconsciente não parava de martelar o meu consciente...

Naquele dia...

Eu não pensei duas vezes já estava tudo decidido, não tinha como recuar e dizer que não, restavam-me poucas horas, por isso alegrei minha manhã com um pequeno almoço de garfos (ovos estrelado mal passado, batatas fritas e chouriço) sentia-me bem fisicamente, mas, lá... Bem lá no fundo, alguém gritava por socorro, por uma chance de... Mas, eu tive de fingir que não ouvia, só para não ter que apelar.

Neste dia...

Trabalhei a dobrar, fui muito mais atenciosa com os meus colegas, me sentia estranha, mas, não quis dar a entender que algo estava errado comigo, aliás, eu estava linda demais por isso ninguém notou a quão feia eu estava por dentro.

14hs fui almoçar em um restaurante próximo, um peixe linguado (me fez lembrar o beijo linguado), antes mesmo que o prato chegasse, um jovem ofereceu-se para me fazer companhia à mesa. Conversamos de tudo e mais um pouco, menos do que realmente me afligia. O almoço foi bom... Despedimo-nos.

De volta ao serviço, fiz apenas trinta minutos e voltei a sair... "Arranquei de mim um botãozinho". E hoje ainda choro, não por tê-lo arrancado, mas, porque sinto a falta dele em mim. Por vezes a vida nos obriga a tomar decisões tão duras, mais tão duras, que é preciso ser muito forte, para não desistir de viver e se culpar por toda a vida.